Já havia sinais de redução do teor de açúcar na relação do mercado financeiro com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Ontem, com a volta do dólar a R$ 3,83, efeito de alta de quase 2%, ficou clara a interrupção do corte da glicose. Houve elementos fortes no cenário externo que contribuíram para a subida, mas o real foi uma das moedas que mais perderam valor, evidenciando o peso dos efeitos domésticos no comportamento.
Durante os dias de exuberância irracional, as ondas de inquietação no Exterior haviam sido solenemente ignoradas. O que provocou a reconexão de investidores e especuladores no Brasil com o mundo lá fora foram declarações de Bolsonaro sobre a Previdência. Há mais de uma semana, havia afirmado que não pretendia "mudar sem levar em conta o ser humano" nem "salvar o Estado às custas do cidadão". Eram sinais claros de que prefere uma reforma suave.
Nos últimos dias, voltou a oscilar entre aprovar "algo" ainda neste ano e criticar o modelo encaminhado pelo atual governo. Na segunda-feira, enfim admitiu que será difícil avançar no tema ainda neste ano. Foi o que acionou o estouro da bolha do mercado.
– Havia alguma expectativa de aprovação. O sinal de que não haverá votação gera algum desconforto – traduziu Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae.
Assim como o vaivém na Previdência, as definições do futuro governo se restringem, até agora, à equipe. Embora haja aprovação para nomes como o do ex-ministro Joaquim Levy, a indefinição sobre soluções para problemas urgentes também pesa.
No cenário externo, o componente mais inquietante foi a queda brusca na cotação do petróleo. O preço do barril despencou 7% em uma só sessão, um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter cobrado que Arábia Saudita e Opep não cortassem a produção. Preço baixo da matéria-prima é bom para os EUA porque reduz a pressão inflacionária e alivia a elevação do juro.
Uma queda desse tamanho espalha temores de que a economia mundial esteja perdendo velocidade. Embora o Brasil também se beneficie de uma elevação menos pronunciada do juro americano, o cenário de desaceleração econômica global não favorece nenhum país. Exigiria acionar, por aqui, o acelerador das reformas que, por ora, está emperrado.