Na longa entrevista concedida ontem a TV Band, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) arranhou diversos temas econômicos, mas não indicou caminho definitivo para qualquer um. Disse querer investimentos da China, mas vai barrar a compra de terras no Brasil por chineses, assegurou que não haverá prejuízo a quem apostou no Mercosul e sugeriu a adoção de golden share (manutenção de direito de veto em decisões estratégicas) em privatizações no Brasil.
Só avançou um pouco mais – mas não aprofundou – na avaliação da reforma da Previdência. Sugeriu, nas palavras e no tom, que mudanças drásticas não têm sua simpatia. Nesse caso, reduzem-se as chances de evolução da proposta entregue por Armínio Fraga, coordenada pelo economista Paulo Tafner. A indicação dos irmãos Weintraub para a equipe de transição reforça, por sua vez, o modelo que um deles (Abraham) esboçou em parceria com o deputado federal Onyx Lorenzoni.
– O Estado tem um contrato com aposentado que não pode ser quebrado – disse Bolsonaro, suavizando avaliações feitas em seu círculo mais próximo.
Embora o mercado financeiro veja com desconfiança uma reforma mais suave, e o presidente eleito tenha falado com a bolsa ainda operando, não houve reação negativa. Pelo contrário, o Ibovespa voltou a acelerar perto do fechamento, para renovar o recorde, agora em 89.598 pontos. Bolsonaro disse ainda que não quer "mudar sem levar em conta ser humano" e nem "salvar o Estado às custas do cidadão".
Sobre a ideia de criar um regime de capitalização (poupança individual para a aposentadoria), presente em nove de cada 10 projetos de reforma da Previdência, Bolsonaro afirmou que "o martelo ainda não foi batido". Lembrou da semelhança com os modelos de montepio que existiam nas Forças Armadas e não deu sinais de ter pressa:
– Se não conseguir aprovar algo da reforma neste ano, vamos propor no início do próximo.