Quem esperava que a retórica violenta e os diálogos ríspidos de Jair Bolsonaro (PSL) fossem só ferramentas de campanha ainda está à espera da "normalização" do presidente eleito –
e de seu entorno. Na primeira oportunidade que teve de soar presidencial, o capitão reformado fez ameaças ao jornal Folha de S.Paulo em pleno Jornal Nacional. Suscitou reações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-candidato do Novo, João Amoêdo.
O que era característica pessoal do presidente eleito também parece contagiar sua equipe. O futuro superministro da Economia, Paulo Guedes, foi rude com uma jornalista argentina por conta do Mercosul. Desculpou-se dois dias depois. Em seguida, disse que salvaria a indústria "apesar dos industriais brasileiros". Até onde se sabe, ainda não se retratou.
– O ministro foi, no mínimo, destemperado – observa Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). – Foi uma generalização inadequada.
A primeira semana dos eleitos é só alegria. As pressões mal começaram, o problema ainda é do presidente em exercício, a expressiva votação atrai personalidades que robustecem o ministério, como Sergio Moro. Nesse ambiente, não há motivos objetivos para perder a calma. A falta de estrutura para entrevistas levou a culpa pela rispidez de Guedes. Espera-se que a mudança para o Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, ajude o primeiro time do futuro governo a operar de forma mais centrada e a envergar a faixa virtual que o presidente eleito já recebeu.
Na sexta-feira, quando houve a terceira especulação sucessiva, desde a campanha eleitoral, sobre a hipótese de recriação da CPMF no futuro governo, Bolsonaro desautorizou tão radicalmente sua equipe que sugeriu uma inédita concentração de poder: só ele pode falar sobre reformas e impostos.
Será preciso muito equilíbrio pessoal e na gestão da equipe para encaminhar a solução do desequilíbrio fiscal do Brasil. Pode não ser urgente, mas não permite perda de foco. Bolsonaro costuma se apresentar como exemplo. Chegou a hora de vestir a faixa virtual.