As especulações começaram há dias, mas agora parece sério: o futuro presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seria Joaquim Levy. Sim, o próprio escolhido de surpresa pela então recém-eleita Dilma Rousseff como ministro da Fazenda de seu segundo mandato. Boicotado por petistas, que discordavam da necessidade do ajuste fiscal, e sabotado pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com as pautas-bomba que elevam despesas, Levy deixou o cargo e o Brasil quase batendo a porta. Se de fato voltar, vai encarar outra pedreira.
Na semana passada, o presidente eleito Jair Bolsonaro pronunciou uma frase que virou clichê — avisou que pretendia "abrir a caixa-preta do BNDES" — e o mundo quase veio abaixo. A corporação da instituição que se transformou no banco público mais exposto a escândalos de corrupção reagiu com uma muralha de resistência. Houve tentativa de tirar proveito do desgaste de Bolsonaro com outras frases infelizes, mas não colou. Para 10 entre 10 brasileiros, o BNDES é mesmo uma caixa-preta.
Assim que Michel Temer assumiu, a indicação de Maria Silvia Bastos Marques para comandar a instituição foi vista como um sopro de modernidade e transparência, mas a combinação dos escândalos que passaram a cercar o presidente e a resistência interna a mudanças fizeram a respeitada executiva ter uma carreira literalmente meteórica — pela rapidez da ascensão e da queda — à frente do banco. Uma das poucas mudanças que Maria Silvia conseguiu emplacar foi o fim do financiamento público a projetos de geração de energia a carvão.
Da concentração na liberação de financiamentos a grandes empresas a escolha das campeãs nacionais — quase todas fracassadas —, os descaminhos do BNDES estão na origem de boa parte do desencanto dos brasileiros com a condução da política e da economia. Transformá-lo em um banco moderno e transparente exige, sim, abrir a caixa-preta. Se for Levy a tirar a tampa, boa sorte.