Pela terceira vez seguida, uma expressão aparece no comunicado do Banco Central (BC) que justifica a manutenção do juro básico. “O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.” Em bom português, o que o BC quer dizer é que a economia brasileira exigiria taxa de referência mais elevada, mas o ritmo lento de reação exige incentivo.
Embora a atividade econômica de fato precise de uma “forcinha”, a que o BC está sendo capaz de dar não é suficiente. Além de derrubar e manter a Selic na mínima histórica, é preciso fazer a redução alcançar o consumidor de crédito. Como mostra a reportagem de Leonardo Vieceli, a taxa de mercado que mais acompanhou o desabamento de 53,1% da referência desde 2016, caiu 29,7%, pouco mais da metade. Faltou criar condições para reduzir a diferença abissal entre o que o cliente ganha quando aplica seu dinheiro no banco e o que paga se fora pedir empréstimo na mesma instituição.
Essa diferença, conhecida no setor financeiro como spread, dá dor de cabeça aos brasileiros há décadas. É nessa parte do custo do crédito que entram os impostos, as despesas, o lucro e a parcela que os bancos cobram dos bons pagadores para se ressarcir dos prejuízos causados pelos inadimplentes. Se é certo que o aumento dos calotes forçou os bancos a manter taxas mais altas, também houve dois desbastes significativos em uma parte significativa dessa conta, o depósito compulsório. Essa parte dos recursos de clientes que o BC obriga a manter recolhida, sem circular, encolheu nos últimos meses.
Há espaço para fazer mais. Ficou para a gestão de Roberto Campos Neto – a reunião de ontem foi a última do ano. Se não foi a derradeira de Ilan Goldfajn, que terá de esperar a aprovação do sucessor, embute seus recados. O primeiro está nas 12 menções a “risco”. O segundo, diante da dúvida sobre a real disposição de Jair Bolsonaro, avisa: “(...) a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes”.