Não é por ter certeza de que a privatização do Banrisul é o melhor caminho para o Rio Grande do Sul que a coluna insiste no assunto. É exatamente pelo motivo oposto. Como nunca foi exaustivamente debatido, o assunto costuma ser abordado de forma superficial, pouco técnica e muito emotiva. A maior dúvida é se há sentido em vender um patrimônio que pode alcançar valor entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões – de R$ 6 bilhões a R$ 7,5 bilhões para os cofres do Estado, que tem hoje apenas metade do capital total do banco – para aliviar uma dívida que já passou de R$ 80 bilhões.
Caso se decidisse avançar para a venda ou federalização, um alívio de menos de 10% da dívida faria diferença? É essa conta que precisa ser revirada, detalhada, discutida. Preconceitos, ideias cristalizadas e visões presas ao passado de glórias do Estado não vão ajudar a resolver a equação. Nem a vontade de se livrar de um símbolo da presença do poder público.
Fora do Rio Grande do Sul, ter um banco estadual é visto como manifestação das “peculiaridades” do Estado. Afinal, existem só mais quatro, no Espírito Santo, em Sergipe, no Pará e no Distrito Federal – nenhum com situação fiscal remotamente comparável à dos gaúchos. Aqui, o banco é querido como parte da cultura local, posição que conquistou com bom serviço prestado a clientes, tanto pessoas físicas quanto empresas, e, nos últimos anos, gestão desvinculada do jogo político.
O setor financeiro enfrenta concorrência crescente de meios de pagamento alternativos, de fintechs a opções em redes sociais. O valor dos bancos pode cair? Manter o Banrisul custa um extra de 13% da receita corrente líquida mensal. Por quase duas décadas, toda a sociedade ajudou a pagar a conta. Nos últimos anos, os resultados bancaram esse peso. Se o banco se sustentar no longo prazo, pode ser um instrumento de disseminação do desenvolvimento no Estado. Mas é preciso fazer as contas.