Com reações diárias de seguro, o Banco Central (BC) tem segurado a disparada do dólar. Não muito. A cotação não cai do patamar de R$ 3,70 no fechamento desde sexta-feira, quando começou a estratégia. Durante o dia, testa valores menores, mas não os sustenta, mesmo à custa de mais de US$ 40 bilhões em contratos que protegem contra futuras oscilações. No front interno, o câmbio desenvolveu dependência do BC. Se a instituição suspender a reação, a cotação decola outra vez.
No front externo, outro banco central, o dos Estados Unidos, deve anunciar hoje a segunda elevação na sua taxa básica – amplamente esperada por investidores. Mas será um dos pronunciamentos públicos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, mais escrutinado por especuladores do mundo todo.
A combinação de crescimento sólido do PIB americano com sinais de alta na inflação causa dúvidas sobre o tamanho da correção das taxas. A pressão nos preços tem a mesma origem da que ocorre por aqui: o aumento no preço internacional do petróleo, transferido automaticamente para os combustíveis. Lá, a estabilidade de outros valores permite.
Então, o destino de viagens de férias, do tamanho da dívida em dólar de empresas brasileiras e do preço de produtos nacionais comprados por outros países está nas mãos de Ilan Goldfajn e Jerome Powell. Com o detalhe de que o primeiro só tem alguma efetividade se o segundo não der o sinal errado – ao menos do ponto de vista brasileiro. A preocupação com os efeitos de uma elevação no juro americano no Brasil existe há anos. É sinal de que o país finalmente se recupera da crise de 2008, uma década depois. Assim que começaram as especulações, também vieram os alertas de que os mais impactados seriam os emergentes mais frágeis.
Até uma expressão foi criada para apontar eventuais bolas da vez: os cinco frágeis (do inglês fragile five). A lista teve várias formulações, mas o Brasil constou em quase todas.Qualquer bom economista sabia, portanto o governo brasileiro deveria estar preparado, Por isso reformas eram urgentes no país que acumulava gigante dívida interna e saldos negativos cada vezes maiores nas contas públicas. Entre salvar a economia e a própria pele, o governo Temer preferiu a segunda. Nenhuma está garantida.