Depois que o Banco Central (BC) avisou que teria US$ 20 bilhões para negociar no mercado de câmbio até o final da próxima semana, a cotação da moeda americana caiu 5,59% na sexta-feira, para R$ 3,706. O mercado de câmbio sentiu o peso da intervenção e percebeu que ficaria caro especular contra o real. Não foi dia de pânico, como o anterior, quando o dólar decolou, bolsa despencou e juro futuro entrou em órbita. No entanto, a bolsa fechou com baixa de 1,23%, e os juros futuros seguiram pressionados. Além do BC, o Tesouro Nacional também precisou intervir. Anunciou que vai facilitar a compra de títulos do governo federal até o final de junho. Aliviou a pressão, mas confirmou o que os especuladores querem: sair do Brasil.
– O dia foi mais tranquilo, mas os próximos meses não serão – avisou Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra.
O especialista, que no passado chegou a prever crescimento de 4% para o Brasil neste ano – um otimista, portanto – pondera que o Brasil está sendo afetado de maneira mais forte do que a média dos países emergentes.
O motivo é sua principal fragilidade, o déficit nas contas públicas, que não tem solução encaminhada nem pelo atual governo nem pelos candidatos que lideram as pesquisas à Presidência.
– O Brasil não tem problemas tão grandes quanto os de Argentina e Turquia, mas como é um mercado bastante líquido (fácil de entrar e de sair), apanha bastante.
A comparação com Argentina e Turquia não é casual. No início de maio, o país vizinho foi forçado a elevar juro para 40% ao ano para tentar segurar o peso. Não foi suficiente. Fechou na quinta-feira à noite, acordo de socorro de US$ 50 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No mesmo dia, a Turquia elevou sua taxa básica em 1,25 ponto percentual, de 16,5% para 17,75%, para frear a alta da lira.
Ao dar ênfase na tese de que “política monetária não será usada para conter taxa de câmbio”, Ilan queria dar a entender aos especuladores que o Brasil não é a Argentina, muito menos a Turquia. No dia seguinte, o mercado se deu por satisfeito. Mas não esquece a decisão do BC de segurar o juro depois do primeiro sinal de alta do dólar ainda marca a relação. E vai testar.