Era uma das negociações especuladas há mais tempo no Brasil: a venda do controle da Braskem, que pertence à Odebrecht, maior das empreiteiras impactadas pela Lava-Jato. Na sexta-feira, a empresa enfim confirmou. Embora a empresa admita “negociações preliminares”, o mercado lê como mero aviso de que o negócio será confirmado nos próximos dias.
Sócia relevante na companhia à venda, a Petrobras avisou que irá analisar “termos e condições da oferta” para “avaliar o exercício dos seus direitos previstos no acordo de acionistas da Braskem”. Em outubro do ano passado, quando surgiu a informação do interesse da LyondellBasell na Braskem, o jornal americano The Wall Street Journal mencionava disposição de pagar US$ 10 bilhões.
A Braskem é dona de quase todo o polo petroquímico de Triunfo: controla a central de matérias-primas básicas e quatro diferentes produtoras de resinas plásticas, que servem para fazer de embalagens a utensílios de cozinha, passando por autopeças. Só quatro operações não estão sob seu guarda-chuva: Innova, do gaúcho Lírio Parisotto, Aranxeo (joint venture da alemã Lanxess e da Saudi Aramco),
a holandesa DSM Elastômeros e a Oxiteno, do grupo brasileiro Ultra (dono da rede de postos Ipiranga). Aliás, a venda da gaúcha Ipiranga, em 2007, foi o momento de consolidação do virtual monopólio da Braskem.
A petroquímica é dona de outras três centrais petroquímicas, na Bahia, no Rio e em São Paulo. Ainda tem um grande complexo no México, em parceria com o grupo local Idesa, e anunciou, no ano passado, unidade de produção de polipropileno no Texas (EUA), na mesma cidade (La Porte) em que a LyondellBasell tem um megaprojeto em construção.
Tanta concentração só foi possível porque o governo Lula deu bênção à formação de outra “campeã nacional”. A Lava-Jato chegou a investigar denúncias de facilitação e prejuízo à Petrobras no negócio, mas não avançou. A venda vai transferir o monopólio a uma campeã internacional, o que soa como derrota de um projeto de nação. Era a última “campeã” intacta, confira:
Oi: a supertele nacional está em recuperação judicial, prometendo transformar pendências de R$ 45 bilhões em R$ 7 bilhões com a conversão de dívidas em ações.
JBS: a maior produtora de proteína animal do mundo confessou ter corrompido quase 2 mil candidatos e teve de vender ao menos quatro empresas.
Marfrig: segundo maior no segmento de carnes, acumula dívidas bilionárias e também vendeu ao menos três subsidiárias.
Fibria: a fusão entre Votorantim Celulose e Papel e Aracruz foi comprada em março passado pelo grupo Suzano, mas ainda não foi aprovada nos órgãos de defesa da concorrência.