Ao assinalar, como o mercado esperava, a mudança no "balanço de riscos" para o Brasil, o Banco Central (BC) adverte que as expectativas que valiam até agora devem ser revistas. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve o juro no mínimo histórico de 6,5% ao ano, mas parece avisar que essa situação é cada vez menos duradoura. Em um comunicado bem mais longo do que o usual, a instituição usa 14 vezes a palavra "risco" – incluídas as versões no plural.
Mas, afinal, porque o risco do Brasil cresceu tanto, sem um "evento" que justifique o fato de estar mais alto hoje do que na época da delação da JBS? Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimentos, avalia que só um fato no cenário interno explica o aumento do prêmio de risco para o Brasil: a falta de perspectivas eleitorais de um candidato comprometido com o ajuste fiscal. Os demais fatores são externos, principalmente a alta do juro americano e a guerra comercial aberta pelos Estados Unidos que atinge países emergentes como o Brasil.
– Isso cria ambiente externo que não é mais benigno e se traduz em mudança de preço que é a taxa de câmbio – afirma o economista.
Enquanto os diretores do BC batiam martelo na decisão, o dólar voltou a subir ontem, para R$ 3,783, confirmando que a moeda americana mudou de patamar. Isso significa, no médio prazo, alta na inflação. Há projeções de que o índice mais impactado pelo câmbio, o IGP-M, possa chegar a 7% neste ano.
Mesmo assim, Rosa mantém sua projeção de juro básico em 6,5% até o final do ano, embora avise que está aberto a mudar a qualquer momento. O problema é que isso não é exatamente boa notícia. A projeção decorre da percepção de que a atividade econômica se manterá tão fraca que não deve abrir muito espaço para repasse de preços.
– A ociosidade deve seguir alta até o final de 2019 e avançando em 2020. Isso sugere menor pressão sobre os preços e inflação rodando abaixo da meta – detalha Rosa.
Apesar de longo, o comunicado do Copom frustrou expectativas de quem esperava ler mensagens sobre o futuro no texto. Para frente, só há incerteza: "os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação".