Fazia tempo que não se ouviam tantas críticas à atuação do Banco Central (BC). Desde que passou a intervir todos os dias no câmbio, a instituição tem sido testada por especuladores. Até um risco que vinha sendo apontado como possível gatilho de alta, a eventual antecipação do fim dos estímulos monetários do Banco Central Europeu, não se confirmou.
Mesmo assim, a moeda americana deu um pinote de 2,6% ontem, para R$ 3,81, escapando do controle da ração diária de contratos para aplacar a disparada. Sem qualquer fato ao qual atribuir o estresse, fica claro que há uma queda de braço entre o BC e o mercado.
Como o nervosismo não ficou restrito ao câmbio – a bolsa recuou 0,97% e os juros futuros voltaram a subir –, ficou claro que a pressão sobre o BC tem calendário: a reunião que decide sobre o juro básico na próxima quarta-feira,
dia 20.
Nas apostas do mercado sobre o juro básico, está desenhada alta de 0,25 ponto percentual na próxima semana. Com a inflação acumulada em 12 meses ainda abaixo do piso da meta, o BC não vê motivo para elevar a Selic. Seu presidente, Ilan Goldfajn, havia afirmado, há uma semana, que “a política monetária olha para as expectativas de inflação e o balanço de riscos, e não será usada para controlar taxa de câmbio”.
Com o sinal dado ontem de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode elevar seu juro de referência para até 2,5%, a pressão por um aumento também no Brasil cresceu. Um dos argumentos é o de que, para atrair capital, o país precisa oferecer remuneração adequada, e a taxa atual de 6,25% é baixa demais. Além disso, o BC já provocou perdas ao não entregar a decisão que havia sinalizado – fazer um novo corte – em 16 de maio. A reviravolta ainda não foi esquecida. Está sendo cobrada.