Depois de tentar interpretar a movimentação do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), o mercado no Brasil fechou com leve alta no dólar, a R$ 3,71, e pequena baixa na bolsa, de 0,87%. A reação se seguiu à confirmação da alta de 0,25 ponto percentual no juro americano, para o intervalo de 1,75% a 2% ao ano. Esperada, a decisão estava embutida nos ativos que respondem mais rápida e diretamente às decisões do Fed.
As altas e baixas do dia foram reação ao sinal de que pode haver quatro altas do juro nos EUA neste ano. Até agora, três estavam na conta. Esse recado é dado por meio do “dot plot” – quadro com as projeções de taxas de cada integrante do comitê de política monetária do Fed. Pela primeira vez, a maioria (oito) situou o juro acima de 2,25% em 2018. Como a elevação é de 0,25 ponto por reunião, seria necessária uma quarta elevação.
O ambíguo discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, que afirmou estar “comprometido” com a meta de inflação de 2%, mas disse ser importante não deixar cair abaixo disso, contribuiu para não gerar pânico de uma puxada forte nos juros. É bom lembrar que a taxa de referência nos EUA ficou negativa (abaixo da inflação) por quase uma década. Antes, a última elevação havia ocorrido em 2006. O Fed só começou a calibrar o juro em dezembro de 2015. Desde então, saiu do intervalo entre zero e 0,25% para o teto atual de 2%. A taxa baixa ajudou a bombar as bolsas de valores, especialmente a de Nova York. Criou um imenso volume recursos na economia global em busca de rentabilidade. Com a alta do Fed, boa parte deve voltar ao porto seguro dos títulos do governo americano, que passaram a representar bons ganhos.
A inquietação com o juro americano decorre da experiência: quando a maior – e mais segura – economia do mundo oferece boa remuneração a investidores, atrai recursos e suga a fonte de dólares em países com economia mais frágil. O momento mais dramático ocorreu nos anos 1980, quando a mudança brusca no juro provocou a crise da dívida que atingiu quase toda a América Latina.