A elevação sem trégua da moeda americana frente a várias moedas inclui o real entre as mais afetadas. Nesta terça-feira, o câmbio já testa nova barreira psicológica, desta vez a de R$ 3,70, poucos dias depois de ter passado de R$ 3,60. Dois presidentes colaboraram decisivamente para o movimento: o dos Estados Unidos, Donald Trump, e o do Brasil, Michel Temer. As contribuições de Trump são mais óbvias. Uma das mais importantes foi a reforma fiscal promovida no final do ano passado, que começou a semear a percepção de que a economia americana andaria em ritmo ainda mais acelerado do que o inicialmente previsto.
Mas teve muito mais depois disso. Ao iniciar uma guerra comercial, sustentando que seria "bom" para os EUA, e abandonar o acordo de redução de atividade nuclear com o Irã, Trump apertou dois botões perigosos: o da incerteza – ninguém sabe como vai terminar a disputa com a China na questão das tarifas – e o da ignição da cotação do petróleo. O primeiro recalibrou as avaliações de risco sobre os países de economia emergente, entre os quais o Brasil, e o segundo inflacionou as projeções de preços em todo o planeta.
Se Trump é responsável pela alta do dólar em relação a quase todas as moedas, Temer deu sua inestimável contribuição aos especuladores. Quando direcionou todo seu poder de fogo no Congresso a sua própria salvação, em vez de priorizar a reforma da Previdência, fragilizou ainda mais o real. Se o Brasil já estava exposto ao risco pela alta do déficit público na gestão de Dilma Rousseff, seu sucessor manteve e agravou a situação a partir do famigerado Joesley Day, quando o país ficou sabendo da frase "tem que manter isso aí, viu".
Agora, a desculpa da vez é o cenário eleitoral exposto pela pesquisa que aponta um eventual segundo turno entre candidatos nos quais o mercado não confia. É, também, responsabilidade do mercado, que até o dia da publicação da nova pesquisa, insistia que a escolha mais provável em outubro seria a de um presidenciável comprometido com as reformas, mesmo sem evidências materiais dessa disposição.