Uma alta de 0,74% levou o dólar fechar em R$ 3,595, depois de ter sido negociado acima de R$ 3,60 durante esta quarta-feira (9). O desempenho fez do Brasil o país mais afetado no dia pela valorização do dólar frente a quase todas as moedas do planeta. Um dos motivos pelos quais o câmbio pesou mais por aqui foi uma entrevista concedida pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn. Como Ilan não deu sinais de inquietação com o câmbio, investidores resolveram testar a tese.
A alta abrupta e persistente da moeda americana no Brasil já começa a provocar debates sobre o nível que o dólar pode atingir ainda neste ano. Com um cenário eleitoral cada vez mais aberto, analistas passam a projetar que o patamar de R$ 4 por uma nota com a efígie de George Washington. Cristiano Oliveira, economista-chefe do Fibra, pondera que, se o risco país crescer, pode haver depreciação maior do real. Nesse cenário, não haveria surpresa com cotação de R$ 4, embora a projeção do banco para o final do ano siga em R$ 3,30.
Isso acentua inquietações sobre o efeito na inflação e, por consequência, na taxa de juro. O impacto cambial afeta preços de três tipos de produtos:
1. importados, com preço original dolarizado
2. com muitos componentes importados, como eletrônicos fabricados no Brasil, especialmente na zona franca de Manaus – TVs, celulares, caixas de som
3. produtos que, mesmo produzidos e manufaturados no Brasil, têm preço definido em mercados no Exterior e em dólar, caso, por exemplo, de gasolina e diesel, açúcar e soja
Como a inflação está muito baixa no Brasil, em 2,68% no índice acumulado nos últimos 12 meses, a alta do dólar não parece muito ameaçadora, sugeriu Ilan. Perguntado sobre o impacto do câmbio nas decisões, voltou a afirmar que o BC só mira na inflação ao decidir sobre o juro básico. Com a taxa acumulada ainda está muito abaixo do centro da meta, de 4%, esse raciocínio conduziria à efetivação do corte adicional de 0,25 ponto. Mas foi uma rara ocasião em que o discurso de Ilan provocou certo desconforto entre analistas, que temem que ele subestime o efeito em preços combustíveis.