Impulsionado por uma conjugação de incertezas externas e internas, o dólar praticamente não para de se valorizar desde 25 de janeiro, quando atingiu R$ 3,14, a menor cotação do ano. De lá para cá, a moeda americana subiu 15,5%. Nesta segunda-feira (14), em nova sessão de ganhos sobre o real, avançou 0,75% e encerrou o dia a R$ 3,628. É o maior patamar registrado em 25 meses.
Apesar do forte movimento do câmbio, o que pode ter reflexos na inflação, é quase consenso no mercado — mesmo entre quem discorda da provável decisão — que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai anunciar nesta quarta-feira (16) novo corte da taxa Selic. Desta vez, o juro básico deve ser reduzido em 0,25 ponto percentual. A queda, para 6,25% ao ano, tende a ser a última do ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em outubro de 2016. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, ressaltou semana passada que, por enquanto, inflação baixa e economia fraca ainda pesam mais do que o movimento do câmbio.
— Nossa economia está muito debilitada. Com a atividade desaquecida e as empresas com alta ociosidade, fica difícil repassar preços. Não vejo ameaça para a inflação — diz o Everton Gonçalves, superintendente da assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne médias e pequenas instituições financeiras.
Para Gonçalves, a principal razão para a alta do dólar é o aumento do juro pelo banco central americano, o que leva capitais ao redor do mundo, principalmente os alocados nos países emergentes, a baterem asas de volta aos EUA em busca de aplicação mais segura.
— De 80% a 90% da culpa desta alta do dólar é o fator externo, embora aqui também tenhamos a indefinição eleitoral e o cenário fiscal difícil — entende o analista-chefe da Rico Investimentos, Roberto Indech, que, além do movimento de alta no juro americano, aponta tensões comerciais entre EUA e China como fonte de insegurança.
Um dos principais especialistas em dólar do país, Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, vê maior peso de fatores internos. Por enquanto, ressalta, não é o fluxo de dinheiro saindo do país, mas empresas brasileiras recorrendo ao chamado hedge cambial. O instrumento financeiro de proteção à alta da moeda americana também acaba afetando a relação de troca entre real e dólar. Esse mecanismo, explica o especialista, fica mais barato à medida que cai a Selic.
— Temos ainda problema sucessório e atividade, emprego, renda e consumo fracos, além de um cenário fiscal ruim. A visão externa do Brasil piorou — observa Nehme, citando o indicador risco país, em alta desde meados de março.
Embora não espere que isso ocorra, Nehme entende que, diante deste quadro, o BC não deveria cortar o juro amanhã. Além de deixar mais barata e estimular a procura por hedge, torna a perspectiva do juro americano mais atrativa em relação ao brasileiro.
— Posteriormente, teremos um movimento de saída de recursos — vislumbra Nehme, que, ao contrário do economista da ABBC, espera impacto do câmbio na inflação.
Para o diretor da NGO, o dólar pode chegar a R$ 3,75 em agosto. Turbulências internas e externas adicionais fariam a moeda se aproximar de R$ 4. Gonçalves prefere não arriscar até qual patamar o câmbio pode atingir, apesar de cravar que o dólar forte veio para ficar. Mas, para chegar a R$ 4, dependeria de um fato novo forte, entende o economista.