De um lado, um favorito de ótimo retrospecto. De outro, uma equipe como pouco entrosamento, mas grandes interesses em comum e cofres recheados. Será assim, em clima de final de Copa do Mundo, a reunião do Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom-BC) que começa amanhã e termina quarta-feira.
Em jogo, não está um símbolo, mas o botim da batalha financeira escancarada no Brasil no início do mês. Desde o dia 7, quando o dólar roçou os R$ 4 e a bolsa recuou quase 3%, depois de despencar mais de 6%, há uma queda de braço entre investidores/especuladores e o Banco Central. Os primeiros ainda buscam compensação pelo prejuízo causado pelo segundo no dia 17 de maio. Depois de dar todos os sinais de que cortaria o juro básico em mais 0,25 ponto percentual, o BC surpreendeu e manteve a taxa.
Causou estragos em série em carteiras respeitáveis. Desde então, o clima amistoso construído há dois anos entre BC e mercado financeiro azedou. Pela primeira vez na atual gestão, as apostas divergem frontalmente do sinal de seu presidente, Ilan Goldfajn. O indicador dos juros futuros situa 60% das expectativas em alta da taxa Selic de 0,5 ponto percentual e 40% em 0,25. Manter o juro básico em 6,25% ao ano, como sustenta Ilan, não está no radar dos donos do dinheiro.
O BC se meteu nessa enrascada ao contrariar sua própria escrita, em maio. Na época, não havia justificativa para não cortar, como agora não há para subir – a inflação oficial é baixa, a atividade está anêmica. Mas entre uma reunião e outra, o Federal Reserve elevou o juro nos EUA, sugerindo que fechará o ano com taxa de 2,5%. O mercado quer ganhar mais para correr risco no Brasil.