Unanimidade até quarta-feira (16) o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, foi o personagem polêmico no dia em que o dólar cruzou nova barreira, fechando em R$ 3,70. Em declarações formais, poucos ousaram criticar o fiador da política econômica depois da saída de Henrique Meirelles do governo. Nos bastidores, porém, a atuação do BC foi alvo de dardos. O banco Fibra observou, em relatório diário, que a decisão “preferiu privilegiar o gerenciamento de riscos/riscos externos e menos sua comunicação recente que vinha apontando para um corte derradeiro na taxa Selic”.
A situação ficou mais estranha porque Ilan havia sido criticado por antecipar o rumo da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) quando, na semana passada, disse que só olharia para inflação e atividade. Como disse uma coisa e fez outra, descoordenou as expectativas.
Até agora, ser previsível era seu ponto forte. Todas as decisões sobre juro em seu mandato ocorreram sem surpresa. Por isso, nos bastidores, houve até quem falasse em “traição”. André Perfeito, analista da Spinelli, observa que o BC “despertou paixões entre os analistas” por ter “rompido o acordo tácito do instrumento de comunicação tão cuidadosamente construído pela atual diretoria, o que criou prejuízos à muitos no mercado”. E acrescenta que havia “motivos de sobra para não se cortar mais”.
A reação também foi intensa na bolsa, que cai mais de 3%, profundidade rara mesmo no instável mercado nacional. Boa parte da reação foi atribuída à surpresa com a decisão do BC. As ações de bancos ficaram entre as mais afetadas, em aparente contrassenso, uma vez que são beneficiados por juro menos baixo. A Petrobras, grande beneficiada até agora pelo ensaio de choque externo, também perde 4,5%.