No dia em que se combinaram a quarta alta sucessiva do dólar no país e a divulgação do indicador do próprio Banco Central (BC) que mostrou freada na reação da economia, a instituição surpreendeu até quem defendia essa estratégia e manteve o juro básico no patamar de 6,5% ao ano. Antes da reunião que terminou na tarde desta quarta-feira (17), o BC havia sinalizado em comunicados e seu presidente, reiterado em entrevistas, que a hipótese mais provável era um corte adicional de 0,25 ponto percentual, que seria o último do mais longo ciclo de baixa da taxa Selic no país.
Na terça-feira passada (8), Ilan Goldfajn, presidente do BC, respondeu a uma pergunta sobre o efeito da alta do dólar na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) afirmando que seriam levadas em conta apenas a inflação e a atividade econômica. Além de confirmar extraoficialmente um duplo mandato não formalizado para o BC brasileiro, reforçou as projeções de um novo corte. Pela primeira vez, não coordenou as expectativas, o que vinha fazendo desde que assumiu o BC.
No comunicado divulgado após a reunião, o BC observa o impacto do cenário externo sobre a economia: "A evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais". Diante disso, conforme o BC, há redução das "chances de a inflação ficar abaixo da meta no horizonte relevante, por meio de seus possíveis efeitos secundários". É o risco Trump.
Mas a instituição também aponta responsabilidades internas, ao observar que "uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária". É o risco Temer.
O recuo de 0,13% no Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) no primeiro trimestre, em relação ao período de três meses imediatamente anterior vai determinar uma nova revisão das projeções para o PIB neste ano. Os analistas já haviam reduzido as estimativas médias de 3% para 2,5%. Agora, estão cortando de 2,5% para 2%. Novas mexidas vão aguardar o anúncio oficial do PIB de janeiro a março que será anunciado pelo IBGE no próximo dia 30.