Rebaixamento da nota de risco de um país não tem lado bom. Adverte o governo que sua gestão de dívida não é adequada, pesa nos custos de captação de recursos das empresas e agrava, sobretudo, o problema que evidencia. Vai ficar mais caro rolar a dívida. Mas como demonstrou o mercado financeiro no dia seguinte ao do anúncio tardio, os efeitos são restritos. A bolsa fechou quase estável, com baixa de 0,02%, e o dólar, em vez de subir, como seria normal, recuou 0,34%.
A decisão era esperada em dezembro. Depois de passada a janela, era prevista para fevereiro. Ao explicar o tempo e os motivos da decisão, Lisa Schineller, diretora-executiva de rating soberano da Standard & Poor’s (S&P), apontou a incerteza sobre a regra de ouro. Frisou que não foi determinante, mas associou o ritmo lento de reformas políticas à maior dificuldade cumprir a norma.
O presidente Temer pode alegar desconhecimento do efeito de uma discussão como a travada sobre a regra que impede contrair dívida para pagar despesas correntes. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não tem a mesma licença. Confiante em sua capacidade de convencimento diante das agências de risco, cruzou um limite de prudência. Se não o mérito da decisão da S&P, o tempo do anúncio está ligado ao debate que tentou abrir.
Seguida do rebaixamento de estatais, bancos e grandes empresas privadas, a decisão veio um dia depois que o presidente chamou os ministros da área econômica para uma estranha comemoração da inflação de 2017, que ficou abaixo do piso da meta. Os preços não caíram só por força da recessão, mas deslizaram nos gráficos cadentes. Crédito, só para a condução do Banco Central. O governo entrou na fase em que precisa evitar que o fracasso suba à cabeça.