Para o comando de uma empresa que acaba de receber o direito de elevar seu preço em 30%, a direção da CEEE parecia bastante contrariada, nesta quinta-feira (21), quando tentou explicar, pela enésima vez, como é feito o cálculo do reajuste anual pelas regras do setor elétrico brasileiro. Além de penduricalhos de todos os tamanhos e formatos, as regras são tão complexas que incluem um item chamado “fator X” – soa como filme de espionagem ou de ficção científica.
Para reforçar o fato de que a empresa cobra 30% a mais dos clientes, mas o que absorve de fato é uma redução de 0,43%, o presidente do grupo, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, avisou que a CEEE-D vai pedir uma revisão tarifária extraordinária – sim, um novo aumento – à Aneel. O comportamento habitual da agência é rejeitar esses pedidos, mas teve de conceder um coletivo em 2015 por conta do desequilíbrio provocado pela Medida Provisória (MP) 579, que vai causar impacto ao menos até 2025.
– É preciso mudar esse modelo baseado em segurança energética e modicidade tarifária que não entrega segurança nem modicidade – afirmou o presidente.
Em tese, o sistema funciona para acionar térmicas quando há risco de falta de água nos reservatórios das barragens – segurança – e os leilões de venda de energia nova definem quem vai gerar energia com base no preço mais baixo – modicidade. Em resumo, o que quase 4 milhões de gaúchos vão pagar a mais na conta de luz será absorvido pela estrutura capenga desse sistema. Não haverá alívio para a delicada situação econômico-financeira da CEEE-D, não vai sobrar dinheiro para investimentos. O que a distribuidora faz para melhorar a qualidade do serviço, ainda motivo de queixas, depende de financiamento contratado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mesmo contratado com cinco anos de carência, juro de 4% ao ano e prazo de 20 para pagar, é mais endividamento no futuro.