Explicações não faltam, mas não bastam para convencer consumidores. O tarifaço de 30% nas contas de luz da CEEE-D afeta quase 4 milhões de gaúchos e deixa a empresa com má avaliação de qualidade com a quinta maior tarifa do país (veja gráfico). Entre as empresas, são afetadas apenas as que ainda não migraram para o chamado mercado livre, em que o usuário escolhe de quem comprar energia. Em 2015, era formado por cerca de 1,8 mil empresas. Neste ano, chegou a mais de 5 mil no país. As primeiras foram as que têm alta proporção de energia no custo (eletrointensivas), depois todas as que se exasperaram com a bagunça instalada no setor elétrico, exacerbada pela MP 579.
Crítico da atual modelagem do setor elétrico, Rafael Herzberg é um consultor que ajudou muitas empresas a migrarem para o mercado livre. Pondera, porém, que a mudança permite redução de custos, mas não imuniza contra o que chama de “bagunça do setor elétrico”, porque mesmo o contratante direto tem de pagar as distribuidoras a tarifa de uso do fio.
– O que os clientes multinacionais observam é que não há previsibilidade no Brasil. O reajuste na tarifa pode ser aumento de 30% ou baixa de 25%. É uma característica perversa do modelo brasileiro. O regulador vai citar todos os motivos pelos quais as tarifas diminuem ou aumentem, mas essa sustentação não tem boa fundamentação para os usuários.
Herzberg avalia que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) segue regras definidas em lei, mas ataca:
– A cartilha do setor elétrico é um desastre.
O que cada um dos brasileiros paga, ao acender a luz ou ligar um eletrodoméstico, não é só eletricidade, explica:
– Tem um monte de penduricalhos colocados na conta. Há dezenas de programas de subsídios e incentivos fiscais, desde os direcionados a desenvolver novas fontes, como a eólica e a solar, até os que prometem levar luz a todos ou financiar a compra de eletrodomésticos mais eficientes. A lógica, nesse caso, é que geladeiras que consomem menos reduzem a perda com os gatos (ligações clandestinas).