Lady Mary Wortley Montagu, provavelmente este nome não lhes diga nada. Porém, todos nós temos uma dívida para com a coragem dela.
Mary nasceu em 1689 numa família nobre inglesa. Teve excelente educação, fato ímpar para as mulheres de sua época. Esquivou-se do marido que o pai tinha escolhido e fugiu com Edward Montagu, seu eleito.
Era feliz até que a varíola mudou sua vida. Naquela época os surtos da doença matavam milhões e cegavam outros tantos; as marcas desfigurantes eram o menor dos problemas. Mary perdeu seu irmão mais querido e foi desenganada quando adoeceu. Sobreviveu, mas sua beleza foi afetada.
Quando Edward foi para a Turquia, em missão diplomática, ela o acompanhou. De lá escreveu cartas que, quando publicadas, se tornaram um clássico da literatura de viagem e consolidou sua fama de escritora.
Na Turquia não encontrava pessoas com cicatrizes de varíola. Informou-se com as amigas locais e descobriu o hábito do “enxerto”. Introduziam debaixo da pele, com uma agulha, pó de casca de ferida de pessoas curadas. Algumas mulheres de idade faziam disso seu ofício. Na primavera, famílias organizavam esta inoculação nos jovens e com isso o país era livre da letalidade da doença.
Mary “vacinou" seu filho. Causou uma comoção quando voltou para a Inglaterra e contou sua experiência. As pessoas se dividiam em acusá-la de praticar charlatanismo de povos pagãos e o apoio dos pais temerosos de perder seus filhos, querendo salvá-los. Mulher, trazendo prática de "curandeiras", foi ignorada pela medicina.
Mary não desistiu e ensinou o procedimento que tornou-se popular. Como os resultados falavam por si, ensejou-se um debate público. Experimentaram a receita em prisioneiros. Seguiram-se testes e a medicina aperfeiçoou o método. Nesta época, Edward Jenner inventa uma forma mais segura, a partir da varíola bovina, e leva os méritos como criador da vacina.
Esta é uma história de apagamentos, de Mary que apressou a vacina no ocidente, das velhas turcas, e de alguma cultura ancestral que inventou o método que chegou à Turquia.
Hoje vivemos o apagamento do valor da vacina. Mesmo depois da mortandade da covid, ainda há quem negue sua inestimável importância. Somos pretensiosos, não reverenciamos o que foi feito pra chegar onde estamos. Se um só ancestral seu tivesse morrido criança, por uma das doenças que a vacina evita, você não existira.