Tenho muitas perguntas que não consigo responder. A mais curiosa é se sou mais gaúcho ou mais brasileiro?
Consigo me imaginar morando fora do Brasil, mas morando no Brasil em outro Estado, só de pensar já tenho saudade. Gosto de viajar pelo nosso país, sou encantado por ele, mas me sinto estrangeiro em qualquer outro Estado. Sinto-me menos estrangeiro no Uruguai do que no Rio de Janeiro. Porém, fique o registro, sempre de mala pronta para ir para o Rio.
Pode parecer maluco, mas atravesso o Mampituba e me sinto no Exterior.
Comparação enviesada, mas dá a ideia de como me sentiria morando fora do Rio Grande. Imagine que você tenha que arrancar o Grêmio, ou o Colorado, de dentro de você e trocar por outro time do Brasil. É assim que me sentiria, caso tivesse que morar em outro Estado. Um paradoxo: fico mais irritado quando falam mal do Brasil do que quando o objeto é o nosso Estado. Nessa direção, piada de gaúcho eu rio junto.
Entendo melhor o espanhol platino do que alguns sotaques, expressões e palavras locais do Norte e do Nordeste, embora desfrute com prazer a sonoridade do português mastigado em outras bocas.
Pode parecer maluco, mas atravesso o Mampituba e me sinto no Exterior. A minha identidade brasileira é frágil. Conscientemente, sinto mais consistência em ser gaúcho. Outro paradoxo, meu primeiro livro, ao qual dediquei anos, é sobre folclore brasileiro.
Observe o título da coluna, poderia começar com “tu”. Não consigo escrever assim, até porque para ser lido fora daqui soa estranho. O “você” é um condicional de polidez que se generalizou Brasil acima para a segunda pessoa. Na fala, é mais provável que fizesse esta pergunta com o “tu”.
Prefiro estudar a história gaúcha à brasileira, porém, mais do que as duas somadas, gosto da história da pré-colonização – os povos autóctones que habitavam o Brasil.
Se a comida fosse o desempate, eu seria brasileiro. Sou apaixonado por farofa. Sinto a farofa como uma sobremesa que se come junto com a comida. Por que diabos nós não temos farofa? Qualquer birosca país acima tem farofa disso e daquilo. Qualquer restaurante oferece um bufê de farofa. Tem algo mais tosco do que a farinha de mandioca crua que servimos com o churrasco? Ou ainda pior, esta desgraça de farinha crua para a feijoada. Vai meu recado, ou bem os restaurantes daqui começam a servir farofa, ou vou tirar passaporte para morar em um lugar em que a farofa seja levada a sério.