Em um cenário de frio e devastação, as equipes de resgate na Turquia e no norte da Síria prosseguiam com os trabalhos nesta terça-feira (7) à espera da ajuda internacional, após a série de terremotos que matou mais de 8,7 mil pessoas.
No início desta quarta-feira, a contagem do número de mortos na Turquia aumentou para 6.234. Na Síria, o balanço de mortos é de 2.470. Os dados foram compilados pelos governos dos países e por grupos de resgate.
— A situação é muito grave, muitas pessoas ainda continuam sob os escombros dos edifícios — declarou o cirurgião Majid Ibrahim, no hospital Al Rahma da cidade de Darkush, no norte da Síria.
Em vários momentos sem ferramentas, os bombeiros prosseguiram com a dramática busca por sobreviventes durante a noite, desafiando o frio, a chuva ou a neve, assim como o risco de novos desabamentos.
Em Hatay, sul da Turquia, as equipes de emergência resgataram com vida uma menina de 7 anos que estava presa sob uma montanha de escombros.
— Onde está minha mãe? — perguntou a criança, com um pijama de cor rosa manchado pela poeira, no colo de um socorrista.
As condições meteorológicas na região de Anatolia dificultam os trabalhos de resgate e prejudicam as perspectivas dos sobreviventes, que se aquecem em tendas ou em fogueiras improvisadas.
Dormir ao relento
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que teme por números ainda piores e um balanço de vítimas "oito vezes mais elevado".
Na segunda-feira foram registrados pelo menos 185 tremores secundários, além dos dois terremotos principais: um de 7,8 graus durante a madrugada (4h17min) e outro de 7,5 graus de magnitude ao meio-dia.
Segundo o Serviço Geológico de Estados Unidos (USGS), o epicentro foi localizado no distrito de Pazarcik, no sudeste da Turquia, a 60 quilômetros da fronteira síria e a 17,9 quilômetros de profundidade.
Os tremores secundários prosseguiram durante a madrugada de terça-feira. O mais forte, de magnitude 5,5, aconteceu às 6h13min (0h13min de Brasília) a nove quilômetros de Gölbasi, região sul do país.
— Achamos que fosse o apocalipse — disse a repórter Melisa Salman, que mora em Kahramanmaras, epicentro do tremor.
— Estamos do lado de fora desde as quatro horas da madrugada. Está chovendo, mas ninguém se atreve a voltar para casa temendo novas réplicas — acrescentou esta jovem de 23 anos.
As autoridades adaptaram ginásios, escolas e mesquitas para abrigar os sobreviventes. Mas com medo de novos terremotos, muitos moradores preferiram passar a noite ao relento.
— Todo mundo está com medo — disse Mustafa Koyuncu, um homem de 55 anos que passou a noite com a esposa e os cinco filhos no carro da família em Sanliurfa, sudeste da Turquia.
Em Diyarbakir, cerca de 380 quilômetros a leste, Muhittin Orakci acompanhava as operações de resgate em frente a um prédio em ruínas.
— Sete membros da nossa família estão sob os escombros — disse.
Em Sanliurfa, a poucos quilômetros da Síria, Emin Kaçmaz, 30, explicou que passará a noite ao relento.
— O prédio não é seguro — disse.
Este foi o terremoto mais devastador na Turquia desde 17 de agosto de 1999, quando um tremor matou 17 mil pessoas, sendo mil em Istambul.
O presidente turco decretou luto nacional de sete dias e o fechamento das escolas durante uma semana. "Nossa bandeira será hasteada a meio mastro até o pôr-do-sol de domingo", informou em um tuíte.
Ajuda internacional
A ajuda internacional para a Turquia deve começar a chegar nesta terça-feira, com as primeiras equipes de socorristas procedentes da França e Catar. A equipe francesa deve seguir para Kahramanmaras, epicentro do terremoto, uma região de acesso difícil e que sofre com a neve. Assim como duas equipes americanas com 79 socorristas cada devem seguir para a região, informou a Casa Branca.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu ao colega turco Recep Tayyip Erdogan "toda a ajuda necessária". Outros líderes, como o papa Francisco e o presidente chinês, Xi Jinping, enviaram seus pêsames às vítimas.
A China anunciou o envio de uma ajuda de US$ 6,9 milhões, que incluirá equipes especializadas em resgates em áreas urbanas, equipamentos médicos e material de emergência.
Erdogan anunciou que 45 países ofereceram ajuda. Foi o caso da União Europeia (UE) e de muitos dos países-membros do bloco. Reino Unido, Israel, Índia, Azerbaijão e Ucrânia, assim como a Grécia, adversária histórica da Turquia, fizeram o mesmo.
O pedido de ajuda do governo da Síria recebeu resposta da aliada Rússia, que prometeu enviar equipes de emergência nas próximas horas. E 300 militares russos que já estavam na região ajudam nos resgates.
A ONU afirmou que a ajuda deve chegar "a todos os sírios em todo o território", incluindo a parte que não está sob controle do governo.
Aproveitando o caos provocado pelos tremores, 20 supostos combatentes do grupo extremista Estado Islâmico (EI) fugiram de uma prisão militar em Rajo, controlada por rebeldes pró-Turquia.
Os balanços de vítimas dos dois lados da fronteira não param de aumentar e, levando em consideração a magnitude da destruição, a tendência deve persistir. Apenas na Turquia, as autoridades contabilizaram quase 5 mil imóveis desabados.
Além disso, a queda da temperatura representa um risco adicional de hipotermia para os feridos e as pessoas bloqueadas nos escombros.
"Todo o edifício desabou"
Segundo o vice-presidente turco, Fuat Oktay, ao menos três dos aeroportos na região afetada - Hatay, Maras e Gaziantep - foram fechados.
A neve e as tempestades que castigam a região impediam o tráfego aéreo em outros, incluindo no de Diyarbakir. No povoado sírio de Azmarin, fronteiriço com a Turquia, Usama Abdelhamid contou ter sentido o tremor enquanto estava dormindo.
— Corri com minha mulher e meus filhos para a porta do nosso apartamento no terceiro andar. Quando a abrimos, todo o prédio desmoronou — declarou.
A agência de notícias síria Sana divulgou imagens que mostravam destruição importante em várias cidades, entre elas Lataquia, na costa mediterrânea, onde prédios inteiros ruíram. Edifícios também desabaram em Hama, no centro do país, e em Aleppo, a segunda cidade síria, no norte do país, onde a famosa cidadela foi danificada.
O Ministério da Educação anunciou o fechamento as escolas em todas as regiões controladas pelo governo até o fim de semana.
Raed Ahmed, chefe do Centro Nacional de Monitoramento Sísmico da Síria, disse a uma rádio oficial que este foi "historicamente o maior terremoto já registrado".
A Turquia fica em uma das áreas sísmicas mais ativas do mundo. Especialistas advertem há tempos que um tremor de grande magnitude poderia devastar Istambul, que permitiu construções generalizadas sem precauções.