Janeiro foi o segundo mês consecutivo com aumento de mortes relacionadas à covid-19 no Rio Grande do Sul. O Estado contabilizou 299 óbitos no período, contra 241 registrados em dezembro, o que representa acréscimo de 24% entre um mês e outro. Já o número de casos positivos caiu de 126.459 para 53.704, redução de 57%, no mesmo período de comparação. Os dados são do Ministério da Saúde (MS) e foram compilados por GZH nesta segunda-feira (6).
A alta de casos e mortes está relacionada à circulação da subvariante BQ.1 da Ômicron no Estado nos últimos meses de 2022, somada ao período de aglomerações das festas de fim de ano, dizem especialistas.
O aumento no primeiro mês de 2023 chega a quase 300% se analisados os indicadores de novembro, período em que o RS teve o menor número de mortes devido à doença em 2022: 76.
Cenário oposto ocorreu no levantamento de casos positivos: em dezembro foram 126.459 registros, e, em janeiro, 53.704 infecções, redução de 57%. Ou seja, em janeiro, o Estado teve menos casos confirmados e mais mortes por covid-19, na comparação com o mês prévio, segundo o Ministério da Saúde, como indica o infográfico abaixo:
No cenário nacional, janeiro teve 493.299 registros positivos de covid-19, com 3.221 mortes, contra 1.065.122 e 4.052 em dezembro, respectivamente. Os casos confirmados, assim, tiveram redução de cerca de 54% no país. Os óbitos também tiveram redução, de 20%, na comparação entre dezembro e janeiro. Portanto, o Brasil mostrou tendência de queda nos registros positivos e também nas mortes no período dos comparativos:
Especialistas abordam o cenário da pandemia
Segundo Alexandre Zavascki, chefe de Serviço da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, a tendência de aumento de mortes pelo segundo mês consecutivo no Estado deve ser analisada com cautela. Ele explica que distorções podem ocorrer nos dados mensais de óbitos e diagnósticos positivos informados ao Ministério da Saúde.
Isso ocorre porque o repasse de informações pode demorar a ser feito pelas autoridades de saúde: assim, a contabilização do registro de uma morte, por exemplo, pode ser informada em um mês diferente daquele do óbito, o que causa alterações no balanço mensal:
— Quando havia muitos pacientes (no pico da pandemia), esse atraso de notificações acontecia eventualmente, mas nem percebíamos porque era um volume muito grande (de dados). Agora, um pequeno atraso faz diferença porque o número de pacientes é menor. Então, se observamos um aumento de casos, esperamos que um mês depois haverá um aumento de mortes. Mas não vimos essa tendência de aumento para justificar as mortes agora (em janeiro). Então, pode ser algo relacionado a algum atraso na notificação — diz.
O médico do Moinhos de Vento explica que a alta nos óbitos pode também ser explicada pela circulação de subvariantes da Ômicron nos meses finais de 2022: no hospital, em estudos recentes, as análises indicam que a BQ.1 foi identificada em 60% dos pacientes infectados e a BE.9, em outros 20%. Ainda que em meio a dados que indicam alta nos últimos meses de 2022 e em janeiro, Zavascki pondera que a situação da pandemia de covid-19 segue sob controle.
— Não me preocupo que isso seja uma mudança de cenário, fora do que esperamos, porque não tem mudado o perfil da doença. Mesmo nessas pequenas elevações de casos da segunda metade do ano (de 2022), já se notou que aumenta o número de casos sem elevar proporcionalmente o agravamento da doença — pontua.
Conforme Jeruza Neyeloff, epidemiologista da diretoria médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o perfil dos pacientes internados na instituição com covid-19 nos últimos meses seguiu o visto em outros momentos da pandemia em 2022: os casos mais graves são observados em pessoas com comorbidades, imunossuprimidos e idosos. Isso indica que a alta nos registros no período não mudou o perfil de pacientes que procuraram atendimento no hospital.
— A maioria dos que tinham covid apresentava quadros relativamente leves: eram pacientes com outras comorbidades graves e, às vezes, também com outras doenças respiratórias. Então, a covid era outra coisa que essas pessoas tinham, não a única causa que gerava internação. Não foi a covid o nosso maior problema (nos últimos meses), não era isso que causava demanda por leitos — comenta.
A especialista agrega que o comportamento da subvariante BQ.1 foi o esperado pelos profissionais de saúde: crescimento rápido de casos positivos e mortes em pouco tempo, seguido de tendência de queda nos registros. Segundo ela, o hospital atendeu mais casos de pessoas com covid-19 na última semana de dezembro, período de festas de fim de ano no qual ocorreram mais aglomerações. A maior circulação do vírus e a ocorrência de novas infecções, no entanto, não causaram reflexos nas mortes e na demanda por internações no Clínicas.
Isso, segundo Jeruza, ocorre por conta da vacinação massiva feita no país nos últimos dois anos: quanto mais pessoas estão com a imunização em dia, mais difícil é o escape das subvariantes, o que, por consequência, faz com que os “picos” das contaminações de novas subvariantes sejam cada vez menos relevantes:
— Estamos sempre sujeitos à possibilidade de uma nova variante que tenha mais letalidade, mais alcance, mais escape. Felizmente, desde a vacinação, ainda não vimos uma variante que pudesse imprimir essa maior severidade de casos. Mas isso também não é garantia de que não vai acontecer. A única coisa que temos controle é manter a imunização atualizada. Por enquanto, vemos um cenário favorável (da pandemia).