Nesta semana, a coluna se dedica a contar casos curiosos, bizarros ou até pitorescos no mundo do futebol. É o esporte avançando em limites sociopolíticos e geográficos dos países. O quarto episódio da série conta a história da seleção da Groenlândia, uma gigantesca ilha na América do Norte, tomada pelo gelo, mas também preenchida pela esperança de ser reconhecida no futebol pela Fifa.
Você sabia que a área da Groenlândia tem mais de dois milhões de metros quadrados? É como se juntasse toda a área territorial de Alemanha, França, Espanha, Itália, Áustria, Suíça e Bélgica. Entretanto, o país, que pertence ao Reino da Dinamarca desde 1814, tem população de pouco mais de 56 mil habitantes, uma vez que 20% do território é habitável, enquanto o restante, coberto pelo gelo.
Isso não impede que o futebol seja, de longe, o esporte mais popular da maior ilha do mundo. Apesar do clima de tundra, com condições inóspitas, o território ao norte do Oceano Atlântico tem cerca de 5 mil jogadores registrados na federação da modalidade, ou seja, aproximadamente 10% da população.
Campeonato vapt-vupt
O campeonato groenlandês é "relâmpago" em função das dificuldades de viajar entre uma cidade e outra na ilha, além da imprevisibilidade do clima. A competição tem uma cidade-sede e ocorre geralmente no mês de julho, com cerca de 40 times para definir o campeão. Os mata-matas duram uma semana. Tudo muito rápido, visto que os demais meses do ano tornam o esporte impraticável.
Já são quase 50 edições do campeonato de clubes local, o que comprova a regularidade do futebol na Groenlândia. Até 2016, o torneio era jogado em campos de terra batida, areia ou pedra, devido à falta de gramados no país. A federação dinamarquesa, com apoio da Fifa, intensificou um projeto de desenvolvimento do futebol na ilha, principalmente construindo campos com gramados artificiais.
Pedido à Fifa e o Island Games
As Ilhas Faroe, que também pertencem à Dinamarca, são reconhecidas pela Fifa e inclusive disputam as Eliminatórias da Europa para a Copa do Mundo e também a Eurocopa. Então por que a Groenlândia não tem o mesmo direito? Uma pergunta que gera debate entre os torcedores groenlandeses. Fato é que a federação local ainda não cumpre os pré-requisitos estruturais demandados pela entidade. Além disso, o país precisa se filiar a uma confederação continental: a Concacaf, à qual pertence territorialmente, ou a Uefa, com a qual sua federação possui maiores ligações culturais.
O nome mais famoso da Groenlândia é de Jesper Gronkjaer, nascido na capital do país, mas crescido na Dinamarca. O atacante, de passagens marcantes por Ajax, da Holanda, e Chelsea, da Inglaterra, disputou duas Copas do Mundo e duas Eurocopas pela seleção dinamarquesa. Mesmo assim, ele foi o primeiro nativo a participar da maior competição do futebol.
O principal passo da Groenlândia rumo ao reconhecimento da Fifa ainda segue sendo um sonho. Enquanto isso, os groenlandeses tentam visibilidade no Island Games (Jogos Insulares), competição multidesportiva na qual eles enxergam uma chance de defender a causa. O desempenho vem melhorando. Já foram duas medalhas de prata no futebol, em 2013 e 2017, perdendo as finais para Bermudas e Ilha de Man respectivamente.
Quem sabe o sucesso da vizinha Islândia nas recentes Eurocopa e Copa do Mundo sirva de estímulo maior ainda para a Groenlândia evoluir no futebol.