Eu tinha horror dessas frases cretinas que raramente funcionam: “Sobe na bicicleta, não precisa mais de rodinhas! Toma impulso e vai!”.
Fiquei semanas com marcas do tombo homérico.
Algo parecido me ocorreria décadas depois na Grécia após um jantar maravilhoso à beira do mar. Era preciso entrar num minúsculo barquinho para chegar ao iate dos amigos. Protestei que nem pensar! Alguém repetiu a velha frase: “Toma impulso que vai!”.
Cheguei no iate molhada dos pés à cabeça, dessa água que ali não era verde-cristalina. E ainda tendo de fingir que achava graça...
Esse momento da minha vida é um dos que mais me lembram disso: quero saltar da cama e correr pro banheiro? Só com andador, essa aranha metálica detestável e temporária, mas útil.
Quero passar uns dias lindos na casinha do Bosque em Gramado? Nem pensar, por enquanto.
Uma velha bruxa nada simpática nem engraçada me pegou debaixo do braço, e eu que me comporte.
Mas uma coisa eu posso: tentar ser otimista e confiante, curtir o amor que me rodeia, agradecer tantos cuidados.
Ah sim, apesar de alguns momentinhos menos doces, isso eu posso.
Mas vêm as trovoadas e a chuva: ótimo me aconchegar nas cobertas. Ler me cansa? Aprendo e curto coisas incríveis em ótimos programas de TV. E o Whats sempre transborda de recados de amizade, descobertas, vida.
Obrigada, vida.