Quem diz que somos bons seres humanos?
Não somos bons nem maus, escrevi num poema anos atrás: somos tristes.
Não sei quando, mas certamente num momento difícil, que todos os temos, vida revivida.
Revisitada.
Vida alheia que se enrosca na nossa e para sempre nos atinge, machuca ou ilumina.
E assim se constroem casas, cidades. Entreveem-se futuros, utopias se abrem. Nós, coitados, buscando nem sabemos o que, mas quase sempre um milagre bonito e bom.
Nada de mais grosseria nem brutalidade.
Nada de olho crítico ou gesto impaciente, mesmo quando o outro nos irrita demais.
De repente nos fazemos a pergunta velhíssima: o que estou fazendo aqui? Agora? Qual meu rosto atrás das máscaras que uso para sobreviver – eu acho?
Mas afinal vemos que tudo é pretensão e tolice, porque não saberemos.
Então a gente boceja, vira de lado, cobre a cabeça com a coberta, e dorme.
Profundamente.
Sem vãs filosofias.
Antes de cair no doce sono abrimos um olho: amanhã vou perguntar ao pai o que é democracia.