Depois de três colunas escolhidas a meu pedido pela Redação enquanto eu estava hospitalizada, operada, cuidada e mimada no Moinhos de Vento, consigo hoje voltar a escrever.
Me ocorreu algo real, entre cômico e espantoso aos olhos modernos: certos procedimentos “médicos” de quando existiam poucas vacinas, nada de antibiótico, e psicologia era meio afeto, meio chinelo e muita ameaça.
Lembro de certa vez em que minhas lindas e cheirosas três crianças pegaram piolho na escola, onde mais da metade dos alunos trouxe esse brinde para casa, em quase todas as escolas da cidade.
Só me ocorreu o que minha mãe fez comigo e meu irmão muito tempo atrás: Neocid em pó nas cabecinhas, touca de banho, uma hora brincando por aí, depois banho e várias vezes xampu.
Muitos anos depois, já adultos e pais, num tempo de perfumados xampus antipiolho, meus filhos davam grandes risadas sobre esse assunto dizendo-se sobreviventes.
Fui criança num tempo pré-antibiótico. Febre alta, tomávamos ou mastigávamos uns tabletes rosa grandes, cujo nome esqueci. Se nada melhorava... injeção.
Tínhamos medo atroz de médico, que significava agulha e dor. A maior ameaça: “Olha que vou chamar o doutor Arthur, e ele vem com uma injeção deeesse tamanho”.
O bondoso e paciente médico que fizera os partos de nossa mãe e me tratou até meu casamento levava culpa de mau...
Hoje os consultórios de pediatras são claros, alegres, decorados, nada de ameaças com injeções “desse tamanho”.
Proximidade de Natal era em parte alegria, em parte, para as arteiras como eu, ameaça de que o Papai Noel traria um grande feixe de varas que minha mãe saberia manejar.
Nenhum de nós ficou louco ou morreu por essas loucuras, mas que não era fácil, não era.