Há um bom tempo não escrevo sobre política, quando escrevia era apenas como uma moradora deste país e, quando parei, resumi tudo num livro, Paisagem Brasileira.
Aqui, passei a escrever mais sobre as coisas humanas. (Um dia desses, um leitor me escreveu pedindo que parasse de escrever “coisas de mulherzinha”, mas, sinto muito, as humanas são de homens, crianças, velhos, moços, ricos e miseráveis. Por isso me atraem, e por isso sobre elas escrevo.)
Assuntos humanos incluem preocupação com meu país, independentemente de política, partidos, ideologia – há muito passei a simples observadora, aqui do meu refúgio de Porto Alegre, eventualmente de Gramado. Assim, preocupada, falo hoje no que me parece insensato e perigoso demais: a novidade quanto a motoristas, trânsito, segurança de todos nós.
Primeiro, é chocante retirar de motoristas, sobretudo os profissionais taxistas e caminhoneiros, a exigência do controle toxicológico. Sabemos que esses importantíssimos profissionais, sobrecarregados com horários, estafados, muitas vezes recorrem a medicamentos, isto é, drogas, para cumprir seus horários desumanos.
O número de acidentes em que eles mesmos morrem, e matam, é imenso, e foi reduzido com a exigência do controle toxicológico. Liberar isso me parece mais do que insensato.
Segundo assunto, multa e ponto na carteira de quem leva criancinhas soltas ou só com cinto no banco de trás do carro. Incontáveis mortes e lesões sérias têm sido evitadas com a criança segura e presa na sua cadeirinha. Retirar essa exigência, ou abrandá-la, é sem dúvida outra grande insensatez.
Fazer uma carteira de motorista valer por cinco, 10, 20 anos tem seus problemas, com motoristas em geral, também pessoas idosas. Eu, com 80, ainda muito boa motorista, acho tranquilizador renovar a carteira a cada dois ou cinco anos. E embora tenha por um tempo apanhado com multas em pardais nas estradas, acabei me adaptando, e sei o quanto esse controle reduziu os acidentes, as lesões, as mortes pelo país. Por que revogar isso? A quem agradaria? Certamente não aos motoristas responsáveis.
Agora, o farol aceso de dia em estradas: não custa dinheiro, dá muito mais visibilidade ao carro, algumas rodovias são traiçoeiras, atualmente com quase zero de manutenção... portanto, qual a utilidade dessa não obrigatoriedade, mesmo em vias duplas?
Todos nós estamos interessados em cuidar da nossa segurança, especialmente no trânsito, grande responsável por tantas mortes e lesões graves, e, creio eu, o presidente e seus auxiliares pensam da mesma maneira. Não sou guarda de trânsito. Nada tenho a ver com a coisa pública, multas, infrações, a não ser porque sou uma motorista que leva em seu carro pessoas amadas, e minha própria vida, que também conta.
Não quero deixar tudo isso a cargo de sorte ou azar.