Voltamos aos anos 1980. Porto Alegre, 4º distrito, Escola Estadual Branca Diva Pereira de Souza. Para os íntimos, Branca Diva. Saudades de tudo. Principalmente das aulas de educação física jogando bola na cancha de cimento com marcação quase apagada, a bola com os gomos se abrindo e as goleiras sem rede.
Certa vez, tentando correr de costas para fazer a cobertura de um contra-ataque adversário, tranquei o pé em uma das emendas da quadra, caí e quebrei o braço. Fiquei um bom tempo de molho. Os jogos de vôlei também eram muito legais. O gigante aqui era o dono da rede.
Como não tinha um ginásio de esportes, com chuva, a aula externa não rolava. Ficávamos na nossa sala jogando stop, aquele velho jogo de palavras. Lembro com muito carinho dos professores de educação física. A Irma, a Denise e o Mabilde, que também era árbitro de basquete. Famosão. Aliás, dos melhores do mundo! Mas preciso fazer uma confissão. Pelo tempo já passado, mais de 30 anos, o meu crime já prescreveu. Eu enganei todos eles! Vamos aos fatos.
Além da prática de esportes na educação física, tínhamos aulas com corrida. O Branca Diva tem um pavilhão antigo, onde ficavam as salas. Bate uma saudade daquele ambiente, das pessoas e dos colegas. Da música no recreio e do prensado do bar. E tinha um prédio mais novo, de tijolo à vista e janelas amarelas, onde ficava a área administrativa. Quando a galera não se comportava, dava uma passada no SOE. Como um aluno comportado, quase um CDF, não conhecia a temida sala. Mas eu fazia algo que talvez merecesse um puxão de orelha.
O que eu mais temia nas aulas de educação física era quando os professores - os queridos Irma, Denise e Mabilde - chegavam com um cronômetro pendurado no pescoço e uma prancheta na mão. Nada de bola de vôlei ou futebol. Vocês podem ter certeza que começaria o meu martírio em instantes. A atividade consistia em ficar correndo, dando voltas no novo pavilhão, por um determinado tempo estipulado. Era complicado. Ficava com uma inveja danada dos colegas que voavam.
Na verdade, vocês sabem o que eu fazia na maior cara de pau? Corria apenas na frente do professor e caminhava o resto da volta. Baita migué! Que vergonha! Eu merecia uma nota vermelha ou até mesmo ficar em recuperação. A realidade é que eu nunca gostei de correr. Odiava! Sempre fui muito pesado. Grandão. Me arrastava. Cansava rápido. Não conseguia me divertir. Agora, tanto tempo depois, tenho absoluta certeza que a corrida é um dos principais caminhos para encontrar a saúde ali na frente.
Aos 46 anos, estou aprendendo a gostar. Ainda não deu a liga. Não é paixão à primeira vista. Ou como a gurizada que usa o Tinder diz: ainda não deu match. Eu e a corrida estamos nos entendendo. Talvez demore. Ainda não senti a tal endorfina que a corrida libera no organismo, que o Diori Vasconcelos, um apaixonado por corrida, tanto fala.
Mas estou melhorando. Encontrando a melhor forma de lidar com o meu corpo pesado, controlando a passada, o ritmo e a respiração. A turma da PUCRS - da academia e do Centro de Reabilitação - o Ig, a Amanda, o Diego, o Vina e o Mauricio têm sido fundamentais no processo.
Na primeira temporada de Caminhos para a Vitória, consegui bater a meta da pista. Agora, terei que encarar uma corrida na rua, fazendo um trecho da rústica na Maratona de Porto Alegre com a Alice Bastos Neves, no próximo dia 12. Quem sabe não seja mais um passo para o ódio começar a virar um grande amor?