Os 120 alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Branca Diva Pereira de Souza, no bairro São Geraldo, zona norte de Porto Alegre, não sentirão mais tanto calor nos dias abafados que vêm por aí. Agora, eles têm ventiladores novos em sala de aula. E a novidade é fruto da arte dos próprios estudantes, pois quadros pintados por eles foram vendidos e o dinheiro arrecadado, usado para comprar os oito eletrodomésticos.
O artista plástico Aloizio Pedersen, que desenvolve o Projeto Artinclusão, foi o responsável pelas oficinas aos alunos de 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental da escola. Em uma hora e meia, os alunos aprenderam a técnica dripping – o respingo em tela – e a teoria da cor-emoção, e já as colocaram em prática.
– O objetivo era que, em cada cor que escolhessem, colocassem um sentimento. Uma arte multidisciplinar, unindo o que é ensinado em sala de aula com a pintura dos quadros – explica Aloizio.
Já na primeira turma, o artista notou que o trabalho renderia frutos e questionou se os alunos gostariam de vender as obras. Quando perguntou o que eles queriam comprar para a escola com o valor que seria arrecadado, imaginou que a resposta seriam artigos esportivos ou para recreação. Porém, a maioria dos alunos pediu a compra de ventiladores para as salas de aula.
Potencial
Aloizio divulgou as nove telas no Facebook, no valor de R$ 150 cada, e todas foram rapidamente vendidas. Os ventiladores foram entregues na quarta-feira da semana passada, em um evento com os pais dos pequenos artistas e que marcou a abertura da exposição Arte para Comprar Ventiladores, que fica até esta sexta-feira na escola.
– Não imaginava que seria assim. É um ato de cidadania comprar algo que, na verdade, é um direito deles. Essa gurizada tem que aprender que tem um grande potencial – ressalta Aloizio.
Os pequenos do 1º ano mostram, orgulhosos, suas obras de arte e também comemoram seus ventiladores novos.
– Gostei bastante porque aprendemos a pintar. Pude escolher pintar com azul, minha cor favorita – diz Rafael Alcântara, sete anos.
– Foi muito legal a oficina. E agora não vamos passar tanto calor – ressalta Kamilly Marconcin, também de sete anos.
Empolgação e alívio do calor
A atitude dos alunos impressionou também a diretora da escola, Meri Jussara Pereira da Silva.
– Eles saíram com os olhos brilhando da oficina. Para os pequenos, era mais uma brincadeira, mas os maiores já aprenderam além, exploraram o significado das cores. Depois, viram aquela atividade rendendo frutos. Comentavam aliviados o alívio do calor – conta Meri.
A diretora relata que os ventiladores das salas eram muito antigos e estragavam com frequência. No verão, os professores chegavam a levar aparelhos de casa para dividir com os alunos.
– Não foi algo planejado, (a oficina) era algo para sair um pouco do quadro, giz e caderno. Foi muito legal da parte deles. Principalmente os que estão no 9° ano, poderão dizer que deixaram na escola mais do que a lembrança deles, algo muito importante que será utilizado por outros – salienta a diretora.