Os alunos do quarto ano do Ensino Fundamental do Colégio Santa Inês, em Porto Alegre, ficaram frente a frente com um dinossauro no pátio da escola. Alguns até passaram sob as pernas do animal pré-histórico e descobriram intimidades do bicho, como tamanho e seus alimentos preferidos.
Essa interação com um tricerátops toda foi possível graças ao uso de aplicativos de realidade aumentada, um recurso que tem conquistado espaço na instituição como apoio pedagógico em diferentes disciplinas e níveis escolares. Com os estudantes mais novos, a experiência serviu para consolidar a percepção dos professores de que a tecnologia pode ser uma aliada do aprendizado e no desafio diário de despertar — e manter — o interesse dos alunos pelo conhecimento ofertado.
— Com o uso do aplicativo, eles tiveram a vivência de buscar os dinossauros no pátio da escola e descobriram detalhes do animal que talvez, na sala de aula, eles não conseguissem o mesmo resultado. Quando o aprendizado passa a ser prazeroso, inovador, eles (estudantes) se envolvem muito mais — diz a professora Josânia Marcos.
A educadora celebrou os frutos de sua primeira experiência com a realidade aumentada. Ela observou que a turma não só demonstrou mais interesse no tema como também trouxe contribuições extras, coletadas em pesquisas próprias.
Responsável pelo setor de Tecnologia Educacional da escola, o professor de química Leonardo De Boita conta que há pelos menos quatro anos os recursos tecnológicos vêm sendo testados com sucesso na instituição na abordagem dos conteúdos. Os alunos têm tablets à disposição, e os professores, liberdade para recorrer a essas ferramentas quando acharem pertinente.
No caso dos estudos sobre o território gaúcho com a turma do quarto ano do Ensino Fundamental, Josânia percebeu que poderia "transportar" os alunos para o cenário pré-histórico e falar da riqueza fóssil do nosso Estado. Na química, o professor De Boita, que leciona para turmas de Ensino Médio, encontrou espaço para a realidade aumentada quando abordou modelos atômicos e forças intramoleculares, entre outros assuntos.
— Fizemos dados, em que cada lado era um elemento químico. Com o aplicativo de realidade aumentada, a gente conseguiu ver o elemento químico como se ele estivesse dentro do dado e observar características, como cor e estado físico. Tudo o que a gente vinha trabalhando na aula dava para ver como se estivesse acontecendo de verdade — conta a estudante do segundo ano do Ensino Médio Maria Eduarda Garcia Machado, 17 anos.
— Isso mostra que a tecnologia não veio para substituir ou fazer o papel do professor, mas é um recurso a mais para atingirmos nosso objetivo, que é a aprendizagem dos alunos — avalia De Boita.
A tecnologia na sala de aula é um dos temas mais discutidos atualmente por especialistas em educação e pedagogia. Para uma parcela dos estudiosos, ela é responsável pela distração dos alunos e prejudica o desempenho escolar, uma vez que os professores têm dificuldades de organizar sua utilização. No mês passado, o parlamento francês aprovou a medida que proíbe celulares e similares com acesso à internet no ambiente escolar indo de encontro a propostas que entendem que a tecnologia pode ser uma grande aliada da educação. A própria Unesco, no documento sobre diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel recomenda a utilização de smartphones na rotina escolar.
— A tecnologia faz parte da vida deles (estudantes) e ela pode estimulá-los a buscar conhecimento. Isso não tem volta — diz Josânia.