Enquanto aqui se discute se o goleiro do Grêmio será o medalhista de ouro ou o titular que vem fazendo milagres, um depoimento de quem conviveu diretamente com Brenno nos últimos 30 dias, na seleção olímpica, traz mais elementos para o debate. O gaúcho Rogério Maia foi o treinador de goleiros das seleções medalha de ouro em 2016 e, agora, em Tóquio.
Nesse meio tempo, foi chamado por Taffarel para ajudá-lo na missão de preparar Alisson, Ederson e Cássio na Rússia, em 2018. Atualmente, Maia se divide entre a CBF e o Atlético-MG. Nesta quarta-feira (11), já em Buenos Aires para a partida contra o River, o preparador de goleiros conversou com a coluna sobre a campanha em Tóquio e, principalmente, sobre Brenno.
O que dizer de Brenno, com quem você trabalhou neste final de ciclo olímpico?
O Brenno é técnico, um goleiro de boa estatura, grande, é rápido e ágil, tem força e velocidade. Trata-se de um goleiro com boa envergadura, que sai bem do gol, enfrenta bem o atacante. Tem todos esses requisitos mesmo sendo jovem. Vai-se ouvir falar muito dele. Nesse período em que estivemos juntos, percebi um jogador muito equilibrado, tranquilo, nada ansioso. Isso é muito importante para a posição.
Ele entrou no radar sub-23 na reta final da preparação. Como se deu isso?
Se fosse em 2020 a Olimpíada, ele não iria. Como se abriu o precedente para aumentarmos o número de convocados com esse adiamento em um ano, ele entrou no radar. Nesta reta final do ciclo, surgiu fazendo bons jogos. O goleiro da idade olímpica era ele, por ter surgido muito bem. Além disso, o Ivan, da Ponte, que vinha sendo chamado, se lesionou. O Hugo, do Flamengo, não vinha atuando. Como tinha idade, o Brenno foi chamado para enfrentar a Sérvia, em amistoso. Entrou na seleção como se estivesse jogando há 10 anos conosco. Não sentiu o peso da camisa e passou segurança. Quando terminou o jogo na Sérvia, a gente falou: "Esse tem de ir (para Tóquio)".
A disputa mais direta dele com o Cleiton, não?
Sim, ele disputava com o Cleiton, do RB Bragantino, o Lucas Perri, do Sport, o Phelipe Megiolaro, que foi do Grêmio e está no Dallas. O Brenno, porém, estava jogando, em alto nível. O Jardine teve o cuidado de não levar muitos jogadores de uma mesma equipe. O Bragantino havia cedido o Claudinho, que era um meia titularíssimo. Isso influenciou também.
Nesse período de Olimpíada, o Brenno não jogou. Ele estaria pronto para atuar no sábado? Como era a rotina de treino dos goleiros olímpicos?
O próprio aquecimento para o jogo já é um treino. Hoje em dia, os preparadores físicos aquecem os jogadores com situações de jogo, por isso, há um grande quantidade de finalizações. Os jogadores de linha chutam, cada um, cinco, seis bolas no gol, e há dois goleiros para defender. Na seleção, o Brenno treinou todos os dias. Sempre esteve em atividade, com minijogos, situações que condicionam o goleiro. Não teve a situação de pressão do jogo, isso talvez seja o único fator que é diferente em relação a quem está atuando. Quanto a condicionamento, esteve em alto nível. Física e tecnicamente, não há problema algum para escalá-lo.
Você já conhecia o Brenno antes desse surgimento dele?
Sim, eu conhecia da base, por acompanhar goleiros de todo o país para as seleções de base. Ele veio do Desportivo Brasil, já o acompanhava. Quando passou a jogar como titular no Grêmio, não foi uma surpresa, sabia do potencial. O Grêmio o buscou no interior paulista não foi por acaso.
Qual a sensação de ganhar a medalha de ouro em um lugar no qual o Brasil havia conquistado o penta?
Quando você vai a um estádio em que o Brasil foi campeão mundial, em que o Inter conquistou seu título mundial, vem boas lembranças, uma energia positiva. Queríamos ser campeões olímpicos em Yokohama. O nível da disputa foi muito alto. O goleiro do Egito enfrentou o Palmeiras no Mundial de Clubes. O do México, o Ochôa, foi o que mais defesas fez na Copa de 2018. O goleiro da Espanha vinha de duas disputas de pênaltis na Euro. Aliás, a Espanha tinha cinco titulares da seleção que foi à semifinal da Euro. A Arábia foi uma das melhores seleções do país a que assisti. Se mantiver nesse nível, vai incomodar no Catar. Na Costa do Marfim, o camisa 8 (Franck Kessié) é destaque do Milan. Todas as seleções estiveram em alto nível.
O Santos, finalmente, você o fez sorrir. Qual foi o milagre?
A partir do quarto jogo, ele começou a rir. Nos três primeiros jogos, estava muito sério, compenetrado mesmo. O grupo gostou muito dele, brincava muito com ele. Na competição, o Santos cresceu muito. Foi campeão da Copa do Brasil e da Sul-Americana, quando um jogador conquista títulos desse nível, tem algo diferente, vai te oferecer algo necessário em momentos importantes. Principalmente, nas fases finais, o Santos foi muito seguro e trouxe isso que disse, do jogador campeão.
Para encerrar, temos Alisson e Ederson, dois dos melhores mundo, e Weverton em grande fase. Há o Santos chegando e nomes jovens surgindo, como Brenno, Chapecó, Cleiton. Goleiro não é problema para o Tite.
Estamos com bons goleiros, todos mentalmente muito fortes, preparados. Todos jogam com os pés, que é uma exigência geral.. Olha o goleiro da Alemanha que nos enfrentou na Olimpíada como usava bem os pés. Isso interfere na parte tática do jogo. Se você carece do goleiro que não joga com os pés, o adversário vai ter pressionar o tempo todo. Agora, quando o adversário percebe que teu goleiro é hábil com os pés, ele vai uma vez na pressão e depois desiste, porque sabe que só se cansará se tentar apertá-lo.