Faltavam poucos minutos para as 16h desta quarta-feira (16) quando José Aquino Flôres de Camargo respondeu ao chamado da coluna feito pelo WhatsApp. Ao atender ao telefone, a voz ainda revelava o cansaço do dia anterior e de uma campanha que foi intensa. Principalmente, nas últimas duas semanas, com desdobramentos na Justiça e tensão entre os candidatos à presidência do Inter. Aquino pretende agora se recolher com a família e descansar.
Nessa conversa, reconheceu a derrota para Alessandro Barcellos, o que ainda não havia feito publicamente, e revelou incerteza sobre seu futuro na política do Inter e prometeu buscar reparação na Justiça por ter seu nome vinculado ao episódio das listas. Confira:
Como está o senhor neste dia seguinte à eleição?
Deus sabe o que faz. A gente tem de entender.
Que avaliação o senhor faz? Haveria alguma ressalva a ser feita no discurso da chapa, insuficiente para convencer o associado?
O nosso discurso foi extraordinário. Saímos do nada. Eu era um conselheiro independente, passamos para o segundo turno e fizemos quase 10 mil votos. O outro lado já estava organizado, encontramos alguma dificuldade na rede digital do clube, estava toda ela ocupada pela chapa 5. Essa foi uma grande dificuldade. Nem quero falar disso, fiquei muito desgostoso com algumas coisas da campanha. Agora, não contribui em nada falar, tem de dar por encerrado (o processo eleitoral).
O receio que tenho é de que a política do Inter está ficando muito profissionalizada. Uma campanha para clube de futebol envolvendo mais de 65 mil pessoas aptas a votar... O que houve com o sistema (para votação) foi algo inexplicável, ninguém entendeu direito. Isso talvez tenha dificultado (para a chapa 3). Nada disso, porém, deslustra o resultado. Nós reconhecemos a vitória da chapa 5, sem problema algum.
O senhor chegou a conversar com Alessandro Barcellos depois da eleição?
Não conversei. Nem fui procurado, nem tomei a iniciativa.
O senhor pretende procurá-lo?
Não tem nada a se falar. Ele foi eleito, ele é a autoridade máxima do clube agora.
Como o senhor imagina que ficará o cenário eleitoral a partir de agora em um clube que clama por pacificação?
Já disse isso ao longo da trajetória que o resultado dessas eleições mostrou que o Inter está procurando lideranças. Por quê? Quem foi para o pátio e acabou sendo leito inegavelmente é uma liderança nova, um homem que tem 10 ou 11 anos de sócios, cinco ou seis anos de Conselho. Não serei injusto aqui, parece que é isso. Legitimamente concorreu e obteve e obteve a liderança. Quem concorreu com ele no pátio era um conselheiro independente, que não participava de nenhum movimento político, não estava vinculado a qualquer movimento havia algum tempo. Os movimentos estavam meio sem rumo, girando em torno de si.
O momento da política do Inter é delicado, existe extremo fracionamento, um clube dividido desse jeito terá muitas dificuldades. Esperamos que a liderança eleita para o clube seja capaz de aglutinar as pessoas em torno do Inter. É isso que se espera de um líder. Ele que terá o protagonismo, as pessoas terão de acreditar na proposta e no ideal dele. Seria o que eu faria se tivesse sido eleito, tentar juntar as pessoas. Isso depende que o sujeito tenha aceitação. Ele (Alessandro) foi eleito, legitimamente eleito.
O senhor, como independente, liderou um grupo de conselheiros. Pretende ficar à frente desse grupo? Qual será seu papel na política do Inter?
No momento, agora, quero descansar. Não sei qual será o rumo, se pretendo continuar na política do Inter. Ainda não deliberei. O certo é que continho colorado.
O senhor sempre revelou o sonho de ser presidente do clube. Esse plano se interrompe?
Sempre se colocou muito essa ideia (de um dia vir a ser presidente), pela função de homem público que exerci e por ser muito ligado ao Inter. Sempre fizeram essa conexão. Essa experiência de eu vir a ser candidato se deu pelo cenário político do clube. Não existe ambição pessoal alguma. Não sei o que vai acontecer (em relação a seguir na política do clube). O que quero é descansar e cuidar da minha família.
A sua chapa aglutinou conselheiros que define como "insatisfeitos", que vieram de outros grupos. Está surgindo um novo movimento, com as 26 cadeiras feitas para o Conselho?
Ah, sim. Provavelmente, isso seguirá, as pessoas continuarão. Ali, surgiram novas lideranças, muito interessadas pelo destino o clube, mais novas do que eu, com disposição. Participarei com eles, provavelmente.
O senhor retoma seu cargo como presidente do Conselho?
Já estou no exercício da presidência a partir de hoje (quarta-feira). A licença era para concorrer. Terminou a disputa, estou na presidência do Conselho. Eu, o Dr. Guinther Spode, a Luciana Gomes e todos os demais da Mesa. Nosso mandado termina no começo do ano.
O senhor acredita que a parceria para gestão do Gigantinho entre na pauta neste ano?
Acho pouco provável, esse assunto estava com as Comissões de Patrimônio e de Novos Negócios. Havia algumas questões a serem esclarecidas. Não seria prudente, em final de mandato pretender que o atual Conselho defina isso. Ficará para a nova constituição. Ela terá condições de apreciar isso. Vou deliberar com os outros integrantes da Mesa sobre isso.
Para encerrar, o senhor acredita que o episódio das listas de sócios vazadas foi decisivo na eleição?
Não sei se foi decisivo, mas, para mim, foi desgastante. Nunca passei por algo parecido na vida, em 37 anos como homem público. Me senti atingido. Pessoalmente, foi até o fim dessa discussão. Estou demandando as pessoas que publicaram a notícia, que entendi que me ofendia. Será nos âmbitos civil e criminal. Quem repercutiu, incide no mesmo. Me senti atingido, ainda mais pela forma como foi exposto. Em primeiro lugar, não existe crime. Mesmo que tivesse havido irregularidade, essa pessoa agiu por conta e risco próprios, alheia à minha vontade. Infelizmente, acarretou desgaste à minha pessoa. Foi uma imputação falsa de prática de crime (pela Lei Geral de Proteção e Dados, só passa a ser crime vazamento de dados em agosto de 2021.
O mais interessante é que houve representação contra outras chapas, pela mesma situação, o suposto uso de listas, e aí não houve impugnação. Aqueles que votaram pela impugnação da chapa 3, votaram em duas linhas cada, sem fundamentação. Isso me parece inaceitável, uma punição sem respaldo em lei, regulamento, nada. Foi a maior agressão que poderia ter ocorrido nesse processo todo. Muito mais quando não tínhamos nenhuma ligação com o fato, não consentíamos, não queríamos. A nós foi atribuído. Isso me deixa bastante magoado em relação ao episódio. É minha honra pessoal.