A Rádio Gaúcha entrevistou os quatro candidatos à presidência do Inter neste sábado (31) para que pudessem apresentar suas ideias ao torcedor colorado. Cada um teve 20 minutos para responder aos questionamentos dos jornalistas Zé Alberto Andrade e Raphael Gomes.
O primeiro turno da eleição está marcada para 26 de novembro, em que o Conselho Deliberativo do clube indicará dois nomes para concorrerem aos votos dos associados, no segundo turno, em 15 de dezembro. Assim será escolhido o sucessor de Marcelo Medeiros na presidência do Inter.
Um dos candidatos é José Aquino Flôres de Camargo, 63 anos, que representa a Chapa 3. Concorrendo de maneira independente, mas com apoio do movimento DNA Colorado, ele é membro titular do Conselho Deliberativo do clube desde 1992. Aquino presidia o Conselho, mas pediu licença do cargo para concorrer à presidência.
Confira as respostas de Aquino:
Relação com o clube
Eu sou colorado desde que nasci e conselheiro faz 30 anos. A primeira vez em que fui a um estádio de futebol fui levado pelas mãos do meu pai, em 1961, no saudoso Estádio dos Eucaliptos, para ver um jogo entre Inter e o extinto Flamengo de Caxias. Jogo noturno. Não sai da memória do guri. Jogo em que o Inter venceu por 2 a 1. E em 1961, o Inter rompeu uma época de hegemonia do Grêmio e naquele momento se criou a saudosa marchinha do Rolo Compressor: "Papai é maior, seis vezes foi doutor, jogo é jogado, não é chorado, é colorado, Internacional, seis vezes foi doutor, papai está com a razão, é um rolo compressor, é o papai, o papai o campeão". Aí começou o coloradismo do Aquino, que vem desde então levado pelas mãos do pai, depois junto com o irmão, depois com os filhos, acompanhando o Inter nas horas de alegria, de tristeza, com alguns serviços prestados ao clube.
Eu diria que a minha vida é muito simples. Tenho três pilares: a minha família, que eu zelo muito, tenho muito orgulho do meu trabalho; da minha vida funcional, fui juiz durante 37 anos, depois me aposentei faz três anos e estou advogando; e o terceiro pilar da minha vida, a parte lúdica, sempre foi o Internacional. Acompanhei o Inter durante o tempo todo. Dizer que eu não fui a um jogo só por circunstâncias de distância ou de impossibilidade material. No mais, estive em diversos momentos de alegria e de tristeza. E há momentos em que a gente é chamado para desempenhar uma missão maior.
Grande ídolo entre jogadores
Na verdade eu comecei a assistir futebol em um período de vacas magras. O Inter estava construindo o Estádio Beira-Rio e o Grêmio tinha um time de futebol muito forte, da época do Foguinho. Mas o Inter tinha um garoto que tinha uma qualidade, uma habilidade extraordinária, e havia inclusive muita discussão sobre futebol, que era o garoto de ouro, o Bráulio. Uma das maiores alegrias que lembro foi no primeiro Gre-Nal no campeonato nacional, no Estádio Olímpico, em 1967, quando o Bráulio dá um chapeuzinho de um metro no Airton, lança em profundidade a bola, o David cruza e Claudiomiro entra de carrinho e faz o gol. Nós ganhamos aquele Gre-Nal por 2 a 0. Foi o primeiro Gre-Nal de um torneio nacional. O Inter estava terminando de construir o Beira-Rio e jogou todas as partidas daquele campeonato no Estádio Olímpico. Então, o Bráulio me marcou.
Mas o grande ídolo de formação no Inter chama-se Paulo Roberto Falcão, porque ele foi formado nas categorias de base do Internacional e se tornou um dos maiores jogadores da história do futebol do Brasil. Jogou naquela seleção de 1982, era um jogador elegante, extraordinário e foi depois considerado o Rei de Roma. Mas tenho outros ídolos também na história, como Figueroa, pela que marcou como capitão e aquele gol iluminado, que deu maioridade ao futebol gaúcho, e o Fernandão, que é o nosso ídolo eterno que levantou a taça no único campeão do mundo no Rio Grande do Sul, que é o Sport Club Internacional. São atletas que eu poderia distinguir, embora houvesse dezenas de ídolos que podem ser citados na história do Inter, porque faz jus à letra do seu hino. É um Celeiro de Ases.
Grande derrota
Tenho duas grandes frustrações. A primeira delas foi em um jogo no Paraná, que eu fui de ônibus de Porto Alegre para o Paraná. O Inter estava correndo risco de rebaixamento, em 1999, e precisava ganhar. Perdemos o jogo por 1 a 0 e na volta ainda recebi uma pedrada. Estávamos no ônibus e fomos apedrejados na saída do estádio. Chegamos em Porto Alegre com a ideia de que não teríamos mais como voltar dessa situação. Mas, por resultados paralelos, e uma vitória extraordinária de Dunga, nós conseguimos escapar daquele episódio.
Uma outra grande frustração foi em 1980, quando estive no Estádio Centenário (de Montevidéu) também com a excursão da torcida do Inter e nós perdemos a Libertadores para o Nacional, com gol do Vitorino de cabeça. Eu diria que o Inter tinha muito mais time do que o Nacional, no entanto, por aquelas coisas da vida, faltou o centroavante para colocar a bola para dentro e infelizmente foi isso. O jogo do Olímpia também foi uma grande frustração, mas esse jogo eu não estava. Eu era juiz de direito em Rio Grande e me guardei para a final, porque tinha certeza de que estaríamos na final. Então foi uma grande frustração, mas eu não estava no Beira-Rio neste dia.
Extravagância para assistir ao Inter
Eu poderia dizer que em Tóquio e Yokohama fui praticamente um chefe de torcida. Passei o tempo todo gritando, puxando os companheiros para motivar o time nas duas partidas. Também o jogo da final da Libertadores aqui contra o São Paulo foi uma partida que nos últimos 30 minutos assisti acocado, de tanto que sofri.
Modelo de dirigente
Tem tantos nomes na história do Inter que merecem ser citados que é até injusto a gente tentar destacar alguém, porque podemos esquecer outra figura que foi muito importante. São vários nomes que prestaram serviços ao clube, muitas vezes até de forma anônima, e deixaram parte de seu tempo, de seu vigor, mas lembro do presidente Carlos Stechman como sendo o presidente da inauguração do Estádio Beira-Rio, lembro da figura de Ruy Tedesco, embora não tenha sido presidente, que foi muito ligado à construção do estádio, lembro de Ibsen Pinheiro, um grande dirigente.
Poderia citar Arthur Dallegrave também como uma figura que muito lutou e participou do clube. São pessoas que marcaram e que o Inter deve muito a elas. Mas muitos, como Frederico Arnaldo Ballvé, enfim. Alguns ficaram marcados por vitórias, outros não conquistaram títulos, mas também foram importantes da vida do clube. O clube, às vezes, passa por dificuldades momentâneas, mas nem por isso se pode esquecer de figuras como do próprio Ildo Meneghetti, que foi patrono. A história do Internacional é muito rica.
Técnico que mais admira
O Inter teve diversos treinadores, talvez no plano tático, o melhor dos estrategistas tenha sido o Rubens Minelli ou talvez Ênio Andrade. Mas o treinador que ficou marcado na história do Inter para mim chama-se Abel Braga. Pelas vitórias e também pelas dificuldades. Eu lembro de dois ou três episódios. O Gre-Nal do Século, a façanha do título mundial e também a tragédia ocorrida contra o Olímpia, em 1989. Mas foi um homem que marcou a sua história e se identificou muito com o Inter. Ele tinha algo que a torcida gosta, que é a proposta de jogo agressiva, assim como temos hoje do nosso treinador Eduardo Coudet, que é uma proposta com a qual a torcida do Inter se identifica.
Futebol que admira
O Inter sempre teve uma escola de futebol arte a agressivo. O torcedor não gosta quando tem um time reativo, mesmo que esse time muitas vezes seja eficiente. A história do Inter nos mostra isso. O Inter sempre, em suas grandes conquistas, teve times que eram propositivos, agressivos na proposta de jogo e que tinham qualidade. Isso desde o Rolo Compressor, o Rolinho de 1950, a Academia do Povo na década de 1970, e depois o time que foi duas vezes campeão da América e uma campeão do mundo. Sempre tivemos uma ideia de futebol agressivo e propositivo. Isso é o que a torcida do Inter espera. E que nós estamos resgatando um pouco, mesmo com as dificuldades do momento. O Inter vem desempenhando um Campeonato Brasileiro que nos enche de esperança.
Por que é candidato
Não é porque se quer. Uma liderança não é imposta, ela é reconhecida. Na verdade, acho que chegou o momento de nós darmos uma contribuição ao clube. O Inter passa por um momento de extrema dificuldade, os próximos anos serão anos muito difíceis. Temos um déficit muito grande. Cerca de R$ 400 milhões de dívida a curto prazo. E o Inter precisa de uma vez por todas se modernizar, precisa de uma gestão profissional e que o seu estatuto seja cumprido. Criou-se a ideia da gestão corporativa, mas ela até hoje não foi levada a efeito. Ainda temos rescaldo do presidencialismo. E temos muito a fazer.
Nós precisamos, para implantar uma gestão profissional, pensar na ideia de contratação de um CEO e de pelo menos três executivos de ponta, um na área de marketing e gestão comercial, de finanças, que nós já temos, e de futebol, que nós temos também. Temos de implementar também as responsabilidades e as autonomias desses executivos para que a gente possa criar uma cultura de empenho e remuneração por metas. O Inter precisa ter uma gestão austera e competente, com orçamento realista que venha a ser cumprido, e não uma peça de ficção. Aliás, uma das primeiras medidas que vamos tomar é cobrar daqueles que saquearam o Inter em 2015 e 2016 o ressarcimento do dano que causaram não só à imagem do clube, mas também ao seu patrimônio. Isso é um dever e uma responsabilidade do próximo presidente do Internacional.
O Inter é um clube de futebol e todas as atividades da gestão deverão ser voltadas para esse fim. Nós vamos priorizar também a construção do CT de Guaíba para fazer a efetiva aproximação da base ao elenco profissional. Queria dizer o seguinte: nós vamos mudar radicalmente a política de contratações do clube. Vamos investir muito na base e pontualmente, cirurgicamente no time de cima. Para que assim nós possamos efetivamente ser competitivos. O Inter precisa crescer de forma sustentável para que as vitórias de campo não sejam isoladas, que sejam consequência do crescimento do clube como um todo. Para fazer isso é preciso trabalhar com responsabilidade e uma gestão efetivamente profissional. Nós não podemos continuar amadores fora das quatro linhas. Hoje nós administramos um clube com orçamento de R$ 400 milhões. Isso precisa muita responsabilidade e profissionalismo.
Precisamos, também, unir o clube do ponto de vista político. Estamos muito divididos. Não existem tantas diferenças assim entre nós colorados. Os movimentos políticos desistem como forma de execução da política, e às vezes há uma deturpação disso e os movimentos se tornam mais importantes do que o clube. Nós temos de pensar primeiro no Inter. Essa é a ideia de independência que a nossa chapa traz.