A Rádio Gaúcha entrevistou os quatro candidatos à presidência do Inter neste sábado (31) para que pudessem apresentar suas ideias ao torcedor colorado. Cada um teve 20 minutos para responder aos questionamentos dos jornalistas Zé Alberto Andrade e Raphael Gomes.
O primeiro turno da eleição está marcada para 26 de novembro, em que o Conselho Deliberativo do clube indicará dois nomes para concorrerem aos votos dos associados, no segundo turno, em 15 de dezembro. Assim será escolhido o sucessor de Marcelo Medeiros na presidência do Inter.
Um dos candidatos é Alessandro Barcellos, 48 anos, que representa a Chapa 5. Vinculado ao movimento "Academia Colorada", ele é sócio colorado desde 1999. Formado em Administração, ocupou cargos no Governo do Estado e foi presidente do Detran. Além disso foi professor da UFRGS e empreendedor. Eleito conselheiro em 2014, passou pela pasta de Administração e Finanças até ser vice-presidente de futebol entre dezembro de 2019 e outubro de 2020.
Confira as respostas de Barcellos:
Formação e tempo de clube
Antes de tudo, sou um torcedor desde a infância. Já fui atleta das categorias de base e tive a oportunidade de, em 2014, ser conselheiro do Inter. A partir de 2017, contribuí com a gestão, acumulando as vice-presidências de Administração e Finanças e, de 2019 até o mês passado estava respondendo pela vice-presidência de futebol. Minha casa se confundia com o Beira-Rio quando eu era criança. Minha mãe adquiriu um título do Parque Gigante e, nas férias, eu e meu irmão passávamos o dia. Também tive a oportunidade de jogar nas categorias de base. Iniciei com o professor Jofre (Funchal, técnico da base), lá no Estádio dos Eucaliptos e, depois, vim para o Beira-Rio, onde treinei com o professor Abílio (dos Reis). Mas vi que a bola não era para mim. Ia ser, talvez, um jogador médio, então acabei tomando a opção de estudar, mas sempre convivendo com o Beira-Rio. Estive presente na final do Brasileirão de 1979, levado pelos meus tios. Lembro de estar na garupa deles e não sabia se chorava de felicidade pelo título ou de medo de cair lá de cima. Mas essa foi minha vida, desde criança, convivendo com o Beira-Rio, com grandes jogos e títulos.
Grande ídolo como jogador
Meu primeiro ídolo no Inter se chamava Paulo César Carpegiani. Tenho várias fotos de aniversário em que a camisa 10, do Carpegiani, era a minha preferida. Depois, fui migrando, pelo futebol e carisma, para o Paulo Roberto Falcão. E tem uma passagem engraçada porque, minha mãe tinha um salão de beleza quando eu era pequeno e, sempre tive o cabelo loiro e liso. Um dia pedi para ela se não tinha como fazer permanente, para deixar meu cabelo mais crespo e ficar igual ao do Falcão, tamanha era a identidade com o ídolo. Foram esses meus ídolos do passado, e mais recentemente tivemos a felicidade de ter o Fernandão, que levantou o título maior do nosso clube.
Ídolo como treinador
Guardo muito a imagem do Rubens Minelli. Lembro também da dupla formada pelo Ênio Andrade e Gilberto Tim, que marcou muito a minha infância. E mais recentemente o Abel Braga, pelo Gre-Nal do Século e pelos títulos que trazem uma memória forte para nós, colorados.
Referência como dirigente
O Inter teve vários dirigentes que fizeram história no seu tempo, a sua forma. Alguns vitoriosos, outros não conseguiram conquistar títulos expressivos, mas tiveram como contribuição o equilíbrio financeiro do clube e, com certeza, geraram aos que vieram depois as condições de serem campeões. Então, não quero esquecer de um ou de outro, mas quero dizer que respeito muito esse passado do Inter, tanto do ponto de vista administrativo e financeiro, quando aqueles que ganharam títulos e construíram o patrimônio belíssimo que temos hoje. Todos eles trazem algum ensinamento positivo. O Inter hoje vive uma nova época. É um clube que fatura mais de R$ 400 milhões e que precisa ter no seu quadro dirigente pessoas que tenham essa visão moderna de clube de futebol, de negócio que cada vez mais exige profissionalismo e execução. É desta forma que a gente utiliza muito bem o que foi feito de positivo e busca aperfeiçoar. Eu preferiria agradecer a todos eles que ajudaram o Inter a chegar onde chegou.
Primeiro jogo no Beira-Rio
Eu falei neste jogo (final do Brasileirão de 1979) porque é o primeiro jogo que eu lembro mesmo. Eu morava nos fundos da casa da minha avó e os cinco filhos dela eram muito colorados. Então, eu tinha cinco tios jovens, que viviam dentro do Beira-Rio e que pegavam o sobrinho mais velho, que era eu, e levavam para os jogos, pois não tinham filhos. Eu estava em todos os jogos praticamente e o jogo que me marcou muito foi este de 1979, mas eu estive em outros. Morávamos no Medinaeira (bairro de Porto Alegre), onde tinha um terreno baldio e nós íamos para um barranco assistir a Gre-Nal, quando não tinha mais ingressos. Na época, o Olímpico (antigo estádio do Grêmio) não tinha a cobertura. Mas o jogo do Beira-Rio mais marcante foi a final de 1979, que a gente se tornou campeão invicto.
Maior derrota como torcedor
Foram duas que me marcaram. Uma delas foi para o Olímpia, em 1989 (semifinal da Libertadores). Eu fui naquele jogo do Paraguai, de excursão. Fizemos bate e volta e passamos por momentos difíceis contra a torcida adversária. Jogaram garrafas, a gente se machucou, tinha pouco policiamento, o estádio tinha um certo perigo iminente e nós espremidos atrás do gol. Conseguimos aquela vitória com um gol de bicicleta do Luís Fernando e voltamos com uma felicidade imensa, mas, infelizmente, não conseguimos ganhar o jogo em Porto Alegre. E outra derrota foi em um jogo que talvez poucos se lembrem, mas me marcou. Foi contra o Ceará, pela Copa do Brasil de 1994. Perdemos por 1 a 0 (em Fortaleza) e depois, por causa do gol qualificado no Beira-Rio, a gente acabou não se classificando. Marcou bastante a minha memória.
Que tipo de torcedor era?
Quando mais velho, frequentei por muito tempo com meus amigos a "Coreia", que alguns mais novos não conheceram, mas era um lugar onde a gente reunia a essência da torcida colorada. Dali, a gente conseguia, com muita pressão, passar para a arquibancada inferior e era uma festa. Quando não dava, alguns amigos meus pulavam o arame farpado e rasgavam a blusa para sentar ao lado da arquibancada social. Às vezes, tomavam uma cacetada nos dedos porque não conseguiam se segurar no muro para pular. Isso a gente nunca vai esquecer. São histórias que todos os colorados viveram.
Superstição como torcedor
Sim, sempre entrava pelo mesmo portão. Os grandes títulos do Inter acompanhei na arquibancada sul, em cima da Guarda Popular, sempre com meus dois filhos. E aprendi a fazer com eles o que fizeram comigo e hoje são dois grandes colorados. Claro que, com a função de dirigente, a gente perde um pouco essa função. É o que mais sinto falta, de estar no mesmo lugar, gritando e pulando. Mas isso foi compensado por outras experiências, como, por exemplo, estar dentro do ônibus, junto com os atletas, em um jogo de Libertadores, vendo a torcida abanando, os carros buzinando, e enxergar a gente ali 10 anos atrás. E a responsabilidade que tem um dirigente de fazer um time para ser campeão. Isso tudo mexe com a emoção de todo colorado e comigo não é diferente. A gente senta falta das superstições, mas ao mesmo tempo criamos outras como dirigentes, e vai tentando substituir isso para que se tenha, além do trabalho, um pouco de sorte no que se faz.
Por que quer ser presidente do Inter?
Eu sou um conselheiro novo no clube. Comecei minha vida política em 2014 e, de lá para cá, me dediquei quando fui chamado a fazer as coisas com muita seriedade e profissionalismo, no sentido de buscar profissionais, dar condições, traçar metas, de cobrar e ter resultados. Consegui transmitir isso para dentro do clube e fui construindo uma liderança junto a outros conselheiros. Faço parte de um grupo político muito pequeno em termos de número no Conselho Deliberativo. Hoje somos 14 conselheiros, mas fui escolhido para, junto dos demais que representam os outros movimentos, que são o Convergência Colorada e o Inove. Mais de 100 conselheiros já aderiram a esta proposta.
Então, não sou um candidato de mim mesmo, mas de um projeto construído de várias mãos, com a contribuição de colorados importantíssimos na vida corporativa do Rio Grande do Sul, de pessoas muito bem-sucedidas nos seus negócios e que, de alguma forma, contribuíram para o pilar financeiro, de marketing e de futebol do nosso projeto. E nossa experiência dentro do clube nos ajuda muito para poder traçar o que é possível, e não apenas o que é utopia ou sonho de alguns. E, o mais importante, que é fazer com que se tenha a execução disso. Porque já vimos vários projetos desfilarem por vários anos, muito bem intencionados, mas nós temos a capacidade de execução.
O Inter está precisando de uma ruptura com um modelo que deu certo, mas que faz com que o clube, em uma nova era, em um novo contexto do futebol brasileiro, tenha que despertar para o uso de novas tecnologias para a governança corporativa de fato. É um conselho de gestão. Não é um clube mais presidencialista. Não existem mais salvadores da pátria. Existe, sim, trabalho, projeto, execução e competência. Para isso a gente está neste pleito, conclamando os torcedores e sócios a virem conosco nesta caminhada.