O Inter buscará na Justiça o ressarcimento dos desvios cometidos pela Gestão Piffero. O clube já procura no mercado um advogado especializado em processos de natureza cível e administrativa e ingressará com uma ação de reparação. Inicialmente, serão buscados os valores apontados na denúncia apresentada pela Comissão Especial no final de outubro. Mas a atual direção, depois da apresentação das investigações feitas nesta quinta-feira (20) pelo Ministério Público, estudará a possibilidade de buscar outros valores sobre os quais os promotores tenham chegado à conclusão.
O presidente Marcelo Medeiros e seu Conselho de Gestão definiram que buscarão, inicialmente, os R$ 9,9 milhões tomados como forma de adiantamento na boca do caixa entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016 por Pedro Affatato, primeiro vice e vice de Finanças na Gestão Piffero. Esses valores foram apontados como má gestão na ata protocolada pelo Conselho Deliberativo da reunião que aprovou a denúncia da Comissão Especial, no final de outubro. Na verdade, Medeiros só esperava essa trâmite burocrático no clube para agir - o que aconteceu na semana passada.
– Buscaremos o ressarcimento ao clube em relação ao que foi apurado no âmbito do Conselho Deliberativo. Estamos selecionando um escritório externo para essa ação. O Conselho de Gestão decidiu por não usar advogados internos, do clube. Buscaremos um profissional especializado na área cível e administrativa – explicou Medeiros.
Os R$ 9,9 milhões tomados em adiantamento já haviam sido revelados pelo GDI na série de reportagens publicadas entre março e junho deste ano. Na ocasião, a investigação apontou o uso de notas fiscais de cinco empresas interligadas, que tinham sócios em comum e eram atendidas pela mesmo escritório de contabilidade, um dos alvos das diligências do MP. Na sua denúncia de 80 páginas, a Comissão Especial capitaneada pelo conselheiro Ubaldo Flores fez o apontamento das empresas e classificou o esquema como "uma verdadeira organização, responsável por um grande esquema de fornecimento de notas fiscais frias".
Nesta quinta, na apresentação de sua investigação, o MP revelou que os valores eram sacados na boca do caixa por Affatato e comprovados com as notas frias. A análise técnica feita em 165 delas, oriundas de nove empresas, mostrou que 94% justificavam obras não realizadas - como limpeza e análise de solo no CT, cuja qualquer intervenção era proibida pelo fato de o clube ainda não ter as licenças ambientais.
Naquelas em que realmente o serviço foi prestado, constatou-se superfaturamento. Um exemplo citado pelos promotores foi a instalação dos guard-rails no complexo Beira-Rio. Segundo eles, instalou-se 700 metros e cobrou-se pelo serviço 1,2 mil metros, com valores acima do mercado. O serviço foi prestado pela empresa da família de Affatato - a Lei do Profut veda que empresas de dirigentes ou de seus familiares prestem serviço ao clube.
A atual direção decidiu que buscará apenas os valores de atos que correspondem a má gestão. Não entrarão nesse bolo os gastos excessivos com o cartão corporativo - a Comissão Especial apontou em seu documento que o ex-vice de Administração Alexandre Limeira usou R$ 80 mil no cartão do clube para pagar refeições em restaurantes badalados da Capital.
— O gasto do cartão corporativo não é má gestão. É abusivo, sim, mas não é doloso, como é a questão das obras — justifica Medeiros.
Para se ter uma ideia do quanto significa o rombo causado pelos adiantamentos, esse valor seria suficiente para bancar a folha salarial de um mês do grupo principal. Os R$ 9,9 milhões também representam mais do que o associado coloca todos os meses no clube. Em novembro, os mais 100 mil associados contribuíram com R$ 7,5 milhões. Ou seja, Affatato, sozinho, sacou na boca do caixa um quadro social inteiro. E mais um pouco.