Considerado referência no atendimento de tuberculosos no Brasil, o Sanatório Belém foi erguido em Porto Alegre a partir de grande mobilização da sociedade gaúcha. A campanha de arrecadação de recursos reuniu desde os maiores empresários até os humildes operários das fábricas. A Rádio Gaúcha e outros veículos de imprensa se engajaram na ação.
Na tarde de 12 de outubro de 1943, quando já estava em plena operação, o presidente Getúlio Vargas cortou a fita de inauguração do complexo com seis pavilhões no bairro Belém Velho. De acordo com o jornal Correio da Manhã, era uma das clínicas mais modernas do mundo, sendo que o governo federal bancou metade do investimento. Em frente ao hospital, em agradecimento, foi inaugurado, naquele dia, busto de Getúlio Vargas.
O presidente da República e o ministro da Saúde, Gustavo Capanema, foram guiados na visita pelo presidente do Sanatório Belém, doutor Manuel José Pereira Filho, professor de microbiologia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Além de cuidar de pacientes, o hospital era local de estudos sobre a tuberbulose.
A primeira diretoria do Sanatório Belém foi eleita por aclamação em 31 de janeiro de 1934: presidente Dr. Pereira Filho, 1º vice-presidente, Saint Pastous, 2º vice-presidente, Dr. José Ricaldone; secretário-geral, Dr. Oscar Pereira; 1º secretário, Dr. Carlos Bento; 2º secretário, Dr. Gaspar Farias; tesoureiros, Alcides Gonzaga e Paulino Gonçalves; e arquivista, Dr. Nicolino Rocco. Na reunião realizada no Cine Teatro Coliseu, também foi constituída uma comissão para escolha do terreno.
Em poucos dias, já começaram a chegar as doações. Em 2 de fevereiro, a Rádio Sociedade Gaúcha enviou correspondência colocando seu microfone à disposição. No final de fevereiro, estava aprovada a localização e a planta, inspirada em modelo de hospitais dos Estados Unidos. Um terreno foi escolhido na Estrada de Belém, longe da cidade, como era apregoado para os tratamentos da tuberculose.
Em 22 de março de 1934, o jornal A Federação elogiou a iniciativa para construção do hospital para "solucionar um dos grandes problemas sanitários do Estado, oferecendo às pessoas atacadas pela terrível moléstia um estabelecimento modelar". Presidente da Associação Sanatório Belém de 2003 a 2011, o engenheiro eletrecista José Bonifácio Glass, 87 anos, lembra que a "peste branca", como chamavam a tuberculose, provocava mortes em quase todas as famílias. Ele, por exemplo, perdeu três tios.
O drama da tuberculose, doença infecciosa que atinge principalmente os pulmões, foi um motivo para a grande mobilização, já que o novo hospital ofereceria ar fresco e isolamento. O terreno fica em ponto alto da cidade. Glass conta que a chance de sair vivo era pequena e vários doentes ficavam por anos no sanatório.
Depois de seis anos do lançamento da pedra fundamental, os primeiros três pavilhões foram inaugurados em 3 de maio de 1940. Em poucos dias, chegaram os primeiros pacientes. Obras continuaram nos outros três pavilhões. O sanatório foi concebido em formato de um semicírculo que liga os seis pavilhões.
Em junho de 1940, o jornal A Noite publicou entrevista de Humberto Petrelli, dono do Cine Teatro Coliseu e mordomo do sanatório, que visitou o Rio de Janeiro para agradecer a ajuda do Ministério da Saúde. Ele contou que o primeiro donativo foi da Legião de Caridade, presidida pelo médico Mário Totta. Sobre o início dos atendimentos, explicou que o hospital recebia tuberculosos indigentes e, em quartos particulares, outros doentes mediante "diárias módicas".
Parque Belém
Em 1º de outubro de 1975, o Sanatório Belém virou um hospital geral e passou a ser chamado Hospital Parque Belém. Devido ao avanço dos tratamentos, com novos antibióticos, o hospital estava com menos pacientes. Em 1977, a vacina BCG também seria incorporada ao sistema público de saúde no Brasil, com imunização da crianças.
Em crise financeira, o Hospital Parque Belém encerrou as atividades em 24 de maio de 2017. A Associação Hospitalar Vila Nova comprou por R$ 17,6 milhões, em leilão realizado em 24 de abril de 2023, o edifício e mais três hectares, onde funcionarão estacionamento e salas de apoio. O novo Hospital Sinos de Belém ocupará o prédio inaugurado na década de 1940.
A reportagem de GZH esteve no prédio e mostrou como estão as condições depois de seis anos fechado.
Oscar Pereira e Pereira Filho
Os irmãos Pereira Filho e Oscar Pereira foram fundamentais na criação do sanatório. Depois da morte do doutor Oscar Pereira, em 1953, a Estrada de Belém, onde fica o hospital, foi renomeada Avenida Professor Oscar Pereira. Além de secretário-geral na construção, ele foi diretor do sanatório. O doutor Pereira Filho, principal nome na construção do complexo para tuberculosos, também recebe uma homenagem importante na cidade, dando nome ao Pavilhão Pereira Filho, da Santa Casa, que é referência latino-americana em pneumologia e cirurgia torácica.