Antes dos nazistas a transformarem em símbolo da maldade, a suástica foi sinônimo de paz e boa sorte em culturas orientais. Grandes empresas a usaram na propaganda de seus produtos, inclusive a Coca-Cola. A Anglo-Mexican Petroleum Company Limited, que fazia parte do Grupo Shell, adotava a suástica como marca da gasolina Energina e do óleo lubrificante Swastika.
Em 1930, a empresa anunciava orgulhosamente o edifício da matriz na Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro, sendo "a única companhia de petróleo com prédio próprio em toda a América do Sul". Nas propagandas, garantia que o lubrificante Swastika era de "qualidade insuperável", formando "uma película uniforme e coesa entre os pistões e as paredes dos cilindros". Com a gasolina Energina, motoristas notariam "imediatamente maior suavidade na marcha, facilidade na saída, rapidez na aceleração e força nas rampas". As propagandas nos jornais e revistas no Brasil traziam a suástica, o que causa um susto olhando hoje.
Eu analisei a evolução nas propagandas na imprensa brasileira. Em dezembro de 1933, em comunicado publicado na imprensa, a Anglo-Mexican anunciou que adotaria no Brasil a concha, marca registrada que a Shell estava padronizando em todo o mundo. Também trocou o nome do óleo Swastika, que passou a ser chamado Energina, como a gasolina. É importante lembrar que, em 1932, os nazistas tornaram-se o maior partido do parlamento alemão e, em 1933, Adolf Hitler virou chanceler e eliminou a oposição.
Os produtos Energina, com as suásticas, também foram comercializados em outros países. O proprietário da Casa do Cacaredo, Ricieri Cunha, é um caçador de coisas antigas, como naquelas séries de TV dos Estados Unidos. Ele já viu muitos produtos com a antiga marca da Shell. Em antiquário no Uruguai, localizou outros produtos da Energina. Depois de ler as reportagens do André Malinoski sobre o mistério de latas com suástica no interior gaúcho, o caçador de relíquias dos pampas tem um palpite.
— São latas da empresa de petróleo — afirma.
Cunha já viu latões iguais na Argentina. Vamos aguardar agora para saber se será a mesma conclusão do professor do Edison Hüttner, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que analisa o latão do acervo do Museu Alcir Philippsen, do município de Santo Cristo.