Um objeto em latão com uma suástica semelhante ao símbolo nazista, pertencente ao acervo do Museu Alcir Philippsen, situado no município de Santo Cristo, na região noroeste do RS, pode ser um vestígio de um importante capítulo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em águas da América do Sul. A pesquisa está sendo realizada pelo professor do Programa de Pós-Graduação em História Edison Hüttner, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
— Esse tonel pode ter participado de alguma forma da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, é o primeiro a aparecer e ser estudado — afirma o docente, que pesquisa o objeto há cerca de um mês a pedido da prefeitura do município gaúcho.
A peça em latão possui 62 centímetros de altura e 32 centímetros de largura, lembrando um tambor de leite antigo. O objeto tem uma tampa presa a uma corrente e a marca da suástica espalhada por cinco pontos. Em função da possibilidade de ter sido utilizado pelo exército alemão no conflito mundial, o artefato fica escondido dos olhos do público e não está exposto no museu.
— Uma hipótese de minha pesquisa é que esses tonéis tenham alguma ligação com o abastecimento de navios na Segunda Guerra Mundial, quando alguns foram encontrados boiando na costa argentina — explica o historiador, ressaltando que sabe apenas da existência de outros dois semelhantes, localizados na Argentina e no Paraguai.
O professor conta que uma empresa de combustível argentina utilizava a suástica antes de Adolf Hitler incorporar o símbolo à ideologia nazista. Com o uso da representação pelo líder alemão, a suástica parou de ser reproduzida em seus equipamentos pela companhia de abastecimento. A suástica nazista possui uma pequena inclinação, o que não se percebe no desenho gravado no objeto que está sendo pesquisado a distância e com o auxílio de imagens.
— Pode ser um símbolo de uma empresa de combustíveis da Argentina. Quando Hitler assumiu o poder na Alemanha, a companhia tirou as suásticas dos tonéis. Estamos analisando com dados científicos — cogita o pesquisador, que já realizou estudos de outras imagens relacionadas ao nazismo no passado.
O professor ficou sabendo da existência do objeto quando desenvolveu pesquisa sobre uma escultura de São José para o mesmo museu em 2019. Este ano, foi procurado pelo diretor do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Turístico de Santo Cristo, Bruno Rafael Machado, para identificar o material.
— O acervo pertenceu ao colecionador que hoje dá nome ao museu (Alcir Philippsen). Ele já tinha a peça, e não sabemos como chegou até suas mãos nem quando — esclarece o diretor, salientando que a prefeitura adquiriu a coleção do antigo proprietário há 40 anos.
Conforme Machado relata, o município tem forte influência da imigração alemã.
— Houve famílias de soldados nazistas que vieram para cá depois da guerra. Quando doavam algum equipamento, preferiam não se identificar — compartilha, citando que o museu soma mais de mil peças ligadas à colonização alemã.
A ideia do diretor é que a peça pesquisada possa ser identificada, catalogada no acervo e integrada ao patrimônio do município. Futuramente, o item poderá ser exibido em alguma exposição local sobre guerras. O resultado da pesquisa deverá ser divulgado na próxima semana.
Navio nazista afundado
O professor Edison Hüttner cogita a possibilidade de o tonel ter participado até do episódio envolvendo o afundamento do navio alemão Almirante Graf Spee. A embarcação nazista zarpou do porto de Wilhelmshaven, no território alemão, em direção ao Oceano Atlântico com uma missão — bombardear e afundar navios inimigos, especialmente aqueles que pudessem ser usados para abastecer o exército britânico. Em seu trajeto de destruição, mandou para o fundo das águas nove embarcações mercantes.
O encouraçado alemão acabou sendo alvo de perseguição de três cruzadores britânicos — Exeter, Ajax e Aquiles. Em 13 de dezembro de 1939, durante a Batalha do Rio da Prata, o navio da Alemanha foi bastante danificado. Dessa maneira, o capitão Hans Langsdorff conduziu a embarcação de 10 mil toneladas até o porto de Montevidéu, no Uruguai, onde teve autorização de permanência de três dias, para tratar dos feridos e retirar os mortos. No dia 17, decidiu afundar o barco e se suicidou dias depois, em um hotel de Buenos Aires, na Argentina.
— É possível que esse tambor de Santo Cristo com a suástica tenha relação com os barcos e os submarinos nazistas na Segunda Guerra Mundial. A possibilidade é que esse objeto, como outros que ainda serão encontrados no futuro, tenha participado da manutenção e do abastecimento desse navio afundado — conclui.
A Segunda Guerra Mundial deixou entre 40 milhões e 50 milhões de mortos. Estima-se que 6 milhões de judeus tenham sido mortos no Holocausto pelos alemães. Além disso, os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, deixando milhares de mortos.