O Pop Center, conhecido popularmente como camelódromo, no Centro Histórico de Porto Alegre, planeja voos mais altos após ter sido aceito como integrante do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). Os projetos são grandiosos e prometem transformar radicalmente a paisagem local.
— Vamos construir um museu arqueológico e uma cafeteria no terraço. As 2 mil peças arqueológicas foram encontradas aqui mesmo, durante as escavações para a construção do centro comercial — antecipa a diretora do Pop Center, Elaine Deboni, que está à frente do centro de compras há 12 anos.
Entre os artefatos, há muitos itens antigos em cerâmica e objetos descartados por navios que navegavam pelo Guaíba. No passado, as águas chegavam até a área onde o centro comercial foi erguido. O material descoberto pelos arqueólogos, que inclui utensílios utilizados em tempos remotos pela Santa Casa de Misericórdia, está armazenado temporariamente na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Assim que o museu for construído, as peças serão transferidas para o Pop Center. A ideia é obter recursos junto à Lei Rouanet e parcerias para a efetivação do projeto. O terraço fica no bloco B do camelódromo, voltado para a Avenida Mauá.
— O Pop é um modelo para o mundo — orgulha-se Elaine.
Em breve, o visitante que for comprar no Pop Center vai dar de cara com placas exibidas nas paredes externas com o logotipo oficial do Pacto Global da ONU. O reconhecimento estará exposto em três pontos diferentes para chamar atenção do público: Avenida Mauá, Rua Voluntários da Pátria e Avenida Júlio de Castilhos. A projeção é que as placas sejam instaladas nas próximas semanas nesses locais estratégicos.
— Queremos exibir as placas na fachada e na parte de dentro do Pop — diz a diretora, que possui experiência de mais de 25 anos atuando no comércio, como proprietária de butiques em Erechim e em Passo Fundo antes de chegar à Capital.
Reconhecimento das Nações Unidas
O reconhecimento da ONU ocorre em função dos serviços socioeconômicos e sustentáveis prestados pelo centro de compras à sociedade desde a sua inauguração, em 2009. Além de tirar os vendedores ambulantes das ruas, proporcionar melhores condições de trabalho, gerar emprego e renda, cumpre um papel social, econômico e ambiental na Capital. Tratam-se de ações como coleta seletiva de lixo, implantação de energia solar, acessibilidade, inclusão e desenvolvimento, e também projetos na área cultural.
O Pop Center chegou ao conhecimento da ONU depois que a diretora teve a ideia de preparar um dossiê com tudo o que tem sido feito no centro comercial e encaminhar para avaliação da instituição, em Nova York. O processo de aceitação levou 25 dias e foi definido em agosto.
— Só entramos na ONU porque lá é cheio de regras. E aqui todas as 4 mil pessoas que trabalham no Pop seguem regras — pontua, citando que participou de uma reunião virtual com representantes de outros países há alguns dias.
Entre os compromissos para se manter no Pacto Global está a necessidade de apresentar algo novo para 2023. Por isso, o Pop Center pretende mostrar para a ONU a instalação de placas solares, que, além da representarem economia financeira, significam o cuidado com o meio ambiente. Mais de mil painéis já foram instalados no telhado. A previsão é de que a economia seja superior a R$ 17 milhões em 25 anos de uso das placas solares.
O centro comercial tem 21 mil metros quadrados e possui 700 lojas em funcionamento, mas há cem espaços vazios à espera de futuros comerciantes. Atualmente, uma loja de quatro metros quadrados custa R$ 241,80 por semana. Cerca de 30 mil pessoas transitam diariamente pelo camelódromo. Quase 60% do público é composto por jovens. O local também oferece 280 vagas de estacionamento pago.
O que é o Pacto Global
O Pacto Global existe desde 2000 e é um convite para as empresas alinharem suas estratégias e operações a 10 princípios universais (confira abaixo) nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. Tratam-se de ações que contribuem para o enfrentamento dos desafios da sociedade.
Quem está no Pacto Global também assume o compromisso de contribuir para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Atualmente, o Pacto Global é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil integrantes em 160 países, entre empresas e organizações. A Rede Brasil do Pacto Global é a terceira maior rede do mundo, com mais de 1,1 mil membros.
Os 10 princípios do Pacto Global
Direitos humanos/Trabalho/Meio ambiente/Anticorrupção
- As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente
- Assegurar-se de sua não participação em violações desses direitos
- As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva
- A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório
- A abolição efetiva do trabalho infantil
- Eliminar a discriminação no emprego
- As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais
- Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental
- Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis
- As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina
Os 17 objetivos do Pacto Global
- Erradicação da pobreza (erradicar a pobreza em todas as formas e em todos os lugares)
- Fome zero e agricultura sustentável (erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável)
- Saúde e bem-estar (garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades)
- Educação de qualidade (garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos)
- Igualdade de gênero (alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas)
- Água potável e saneamento (garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos)
- Energia limpa e acessível (garantir o acesso a fontes de energia confiáveis, sustentáveis e modernas para todos)
- Trabalho decente e crescimento econômico (promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos)
- Indústria, inovação e infraestrutura (construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação)
- Redução das desigualdades (reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países)
- Cidades e comunidades sustentáveis (tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis)
- Consumo e produção responsáveis (garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis)
- Ação contra a mudança global do clima (adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos)
- Vida na água (conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável)
- Vida terrestre (proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade)
- Paz, Justiça e instituições eficazes (promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à Justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis)
- Parcerias e meios de implementação (reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável)
Mais informações neste link.