OBSERVAÇÃO: o leitor João Fernando Krahe enviou à coluna alguns esclarecimentos sobre as informações contidas no texto reproduzido abaixo, sobre o navio Graf Spee. Confira a versão dele para o episódio.
O grupo Beira Mar –Movimento Conservacionista 38 Anos, que resgata a memória histórica da cidade de Rio Grande, mantém um site e apoia a Biblioteca Rio-Grandense. Nosso colaborador Manuel Touguinha encontrou na página do grupo um tema que julgou interessante compartilhar com os leitores do Almanaque Gaúcho.
“A passagem do encouraçado alemão Graf Spee no Atlântico Sul deu início às primeiras batalhas navais na Segunda Guerra Mundial. Após tentar entrar, em 1939, no Porto de Rio Grande, teve seu acesso negado e dificuldades com o calado, seguindo, então, viagem para Montevidéu.
O bloqueio naval inglês, imposto à navegação alemã, fez cair as trocas comercias da Alemanha com o Brasil, que se mantinha neutro. Após enfrentamento com navios ingleses, a embarcação nazista começou a buscar refúgio, primeiro em Rio Grande e, depois, em Montevidéu, para reparos. A aventura do Graf Spee culminou com seu afundamento, pela própria tripulação, no Rio da Prata, em 17 de dezembro de 1939. O barco de guerra alemão protagonizou a primeira batalha naval da Segunda Guerra, um episódio dramático. Perseguido pelos britânicos, esse navio foi um dos ‘encouraçados de bolso’, classificação de navios que se apertaram para atender as limitações do Tratado Naval de Washington de 1935, que limitava a 11 mil toneladas as belonaves alemãs. O Graf Spee tinha 16,7 mil toneladas, mas grande potência de fogo, com 38 canhões, os maiores com 280 mm. Para economizar espaço, os marinheiros dormiam no convés.
Em função disso, e de Rio Grande ser zona portuária, a cidade atraiu a atenção do Serviço Secreto dos Estados Unidos, que começou a patrulhar as águas da costa gaúcha e mandou para Rio Grande 20 homens, comandados pelo capitão de fragata Jesse Draper, que se instalou em um quarto no terceiro piso da Câmara do Comércio, fazendo operações de contra espionagem. Em 22 de agosto de 1942, o Brasil reconhece o estado de guerra com a Alemanha e a Itália e, em 31 do mesmo mês, foi baixado o decreto do ‘estado de guerra’ em todo território nacional. Para defender o único acesso marítimo ao comércio gaúcho, foi criado o Destacamento de Defesa de Rio Grande, inicialmente reforçado com pessoal, e a transferência de canhões vindos de São Leopoldo e de Bagé. Do histórico da Unidade de Artilharia de Bagé, o atual 25º GAC, temos: a Unidade pronta, já às 3h, de 23 de agosto de 1942, em trem especial desloca-se para Rio Grande, onde chega às 13h do mesmo dia. A 1ª Seção, da 1ª Bateria, do então 13º Regimento de Artilharia da Divisão de Cavalaria, às 23h, de 23 de agosto, ocupa, com uma peça, posição no molhe Leste, e outra no molhe Oeste, da Barra do Rio Grande. As peças de artilharia, destinadas a abaterem os prováveis submarinos alemães, eram Canhões Krupp 75 C/26 de tiro rápido, modelo 1938, de fabricação alemã, recebidos em 1939. Na época, era o material de artilharia de campanha mais moderno existente no Brasil; e faziam parte dos contratos de 1937 e 1938 com a Krupp, para o rearmamento do Exército Brasileiro.
Passados quase 77 anos, por ocasião da criação do Destacamento de Defesa de Rio Grande, verifica-se a importância estratégica do Porto de Rio Grande na Segunda Guerra Mundial, fato pouco conhecido pela população riograndina, gaúcha e brasileira.
A Argentina, neutra, era a porta de entrada para a propaganda e espionagem nazista na América do Sul, causando preocupações à segurança no Brasil e, principalmente, no Rio Grande do Sul. Em 1943, quando do encontro dos presidentes Norte Americano, Roosevelt e Getúlio Vargas, em Natal (RN), foram tratadas as ideias iniciais da criação de um corpo expedicionário brasileiro para combater junto aos aliados. Em agosto daquele ano, foram iniciados os trabalhos de preparo e constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que, em outubro de 1944, entraria em combate na Itália.
E o Graf Spee? Não conseguindo os reparos necessários e pressionado pela política internacional, o comandante, capitão Langsdorff, foi obrigado a deixar o porto da capital uruguaia. Mas a armada inglesa estava a sua espera na saída do estuário do Prata e, assim que deixasse as águas uruguaias era certo que seria novamente atacado. Desta forma, o comandante deu ordens de afundar o próprio navio, o que se fez logo na saída do estuário. O capitão e sua tripulação se dirigiram, então, à Argentina. Na tarde de 19 de dezembro de 1939, após enterrar seus mortos e encaminhar os feridos ao hospital, o capitão se suicidou”.