Se existe uma coisa com a qual os leitores desse Almanaque podem contar, é o nosso desejo de trazer fatos curiosos e precisos. Embora as informações sobre as movimentações militares em defesa da barra de Rio Grande, durante a Segunda Guerra, motivadas pela presença do navio alemão Graf Spee, contidas na coluna de terça-feira (31), sejam muito interessantes, o leitor João Fernando Krahe, que se aprofundou no assunto em livros como Panzerschiff Admiral Graf Spee, Die Schicksalsfahrt der Graf Spee e Kriegs Tagebuch, faz alguns reparos sobre as característica da embarcação e o drama vivido pela tripulação. “A saber”, diz ele:
“1) O Graf Spee jamais tentou, seja antes ou depois do enfrentamento com navios ingleses na Batalha do Rio da Prata, acessar o porto de Rio Grande. O confronto transcorreu frente à costa uruguaia, entre Maldonado e Punta del Este.
O comandante Langsdorff sabia que o porto de Rio Grande não tinha calado suficiente para receber o Graf Spee.
2) O Graf Spee não tinha 38, mas sim, 20 canhões, sendo: seis de 280 mm, oito de 150 mm e seis de 105 mm. Os de 280 mm estavam dispostos em duas torres triplas, uma à proa e outra à popa do navio.
3) Jamais seus marinheiros tinham de dormir no convés para economizar espaço.
4) A tonelagem máxima imposta aos navios alemães não foi definida pelo ‘Tratado de Washington de 1935’, mas pelo Tratado de Versalhes (1919). O Tratado ou Conferência Naval de Washington é de 1922.
5) O poderio do Graf Spee não provinha só de seu fabuloso armamento, mas também de seu enorme raio de ação. Era um dos primeiros navios modernos equipados com motores a diesel. Tinha oito motores diesel Mann de 7.000 HP cada um. Podia percorrer, praticamente, 20 mil quilômetros sem reabastecimento.
6) Não foi na tarde de 19 de dezembro nem na Argentina que o comandante Langsdorff enterrou seus tripulantes mortos na batalha. Eles foram enterrados no Cemitério do Norte, em Montevidéu, no dia 15 de dezembro.
Contam-se e escutam-se muitas histórias a respeito desse encouraçado. Certa vez, contaram que residentes da praia do Cassino não só escutaram como viram os clarões de fogo do combate à noite. A batalha se iniciou por volta das 6h de 13 de dezembro. Já dia claro, quase verão. Terminou lá pelo meio-dia. Perto da meia-noite, o Graf Spee ancorava manobrado só por seu comandante no porto de Montevidéu. Também dizem que Langsdorff se suicidou em seu quarto de hotel em Montevidéu. Ele tirou sua vida em seu quarto nas dependências do Arsenal Naval de Buenos Aires. Em minha juventude, recordo ter visto, aqui em Porto Alegre, nas instalações do antigo Estaleiro Molé, na Vila Assunção, uma enorme hélice deixada no chão. Contavam que o objeto pertencia ao Graf Spee.
Como se pode ver, histórias aos montes, na maioria fictícias. Interessados podem buscar os livros em alemão Panzerschiff Admiral Graf Spee, escrito pelo primeiro oficial de bordo capitão de corveta Rasenack, Die Schicksalsfahrt der Graf Spee, do jornalista Michael Powell e, para mim, o melhor livro sobre esse episódio, KTB ou Kriegs Tagebuch, diário de guerra de bordo escrito até 13 de dezembro, dia da batalha, e depois pequenos fragmentos e anotações finais do próprio comandante Langsdorff. Este último livro foi compilado e traduzido para o espanhol pelo Centro de Estudos Históricos Navais e Marítimos da Armada Nacional do Uruguai, patrocinado pelo governo alemão em memória aos 70 anos dessa batalha, em dezembro de 2009”.