O texto a seguir foi enviado por nossa leitora e colaboradora, professora Ivone Avila.
“Um acervo tipográfico enterrado na região da fronteira com a Argentina deu origem à gráfica e ao jornal A Notícia, que completa, hoje, 85 anos. Esta história, que parece ficção, é fato e aconteceu aqui. Depois de desenterrar os tipos remanescentes de uma antiga tipografia que servira a movimentos revolucionários, o material adquirido por José Grisolia teve de ser recuperado e separado.
De acordo com o tamanho e desenho, as letras foram colocadas em caixas com divisórias para que o tipógrafo pudesse usá-las na composição dos textos. Imaginem o trabalho que isso representava. Montar uma página de jornal com tipos metálicos móveis era um verdadeiro quebra-cabeça.
Pois foi exatamente assim que nasceu esse jornal, que completa 85 anos de vida ininterrupta. Em razão do pouco material disponível, a então Empreza Gráfica Porto Seguro, primeiro nome do empreendimento criado pelo visionário José Grisolia, no distante ano de 1934, iniciou suas atividades com muitas dificuldades. O proprietário, na época um destemido jovem, fazia trabalhos gerais de segunda a quarta. De quinta a sábado, punha a tipografia a serviço da produção de um jornal.
Como os tipos eram poucos, dava para fazer só uma página a cada vez. Depois da impressão, os tipos eram recolocados nas caixas para serem usados na montagem da página seguinte. E, assim, sucessivamente. Fazer um jornal com quatro páginas era demorado e trabalhoso. Mas, dessa forma, foi construído esse bissemanário que resiste ainda hoje.
A primeira edição saiu em um longínquo domingo, em julho de 1934. Naquele dia, que amanheceu frio, mas com céu de brigadeiro, 500 famílias receberam seu exemplar, acompanhado de uma cartinha que oferecia a assinatura. Era só devolvê-la, caso não quisessem. Sucesso! Nenhuma carta retornou: o sonho se materializava com aqueles 500 assinantes.
Em busca de melhorias e novidades gráficas, o diretor do jornal buscou na Alemanha uma máquina Original Heidelberg, revolucionária forma de impressão, automática e que multiplicava a produção. Não serviu, porém, para imprimir o jornal que continuou impresso na antiga Marinoni Paris, só aposentada muito tempo depois. A inauguração da máquina alemã, Original (que mantinha em seu registro o nome da cidade europeia onde é a fábrica) que permitiu milhares de impressos comerciais, foi uma festa!
E assim se manteve ao longo dos anos essa que é a empresa mais antiga de São Luiz Gonzaga. Falar de A Notícia é pensar, também, sobre a história de nosso município. É relembrar feitos cuja memória está gravada nas páginas desse jornal. Notícias da 2ª Guerra Mundial, a impressão do primeiro livro de Jayme Caetano Braun, a chegada do primeiro homem à Lua, o golpe de 64, os cem anos de São Luiz, os 300 anos da Missão de São Luís, a criação do Frigorífico São Luiz SA, da Coopatrigo, a criação do Instituto Histórico e Geográfico, a Mostra da Arte Missioneira, inaugurações, nascimentos, mortes e conquistas de são-luizenses, enfim, a crônica desta cidade e região, tudo está registrado nas páginas de A Notícia.
Falar sobre os feitos de José Grisolia, não só o criador do jornal mas um cidadão de grande destaque, reclamaria mais do que uma coluna, quem sabe um livro inteiro. Trata-se, afinal, de registrar uma longa história que faz parte do cotidiano desta cidade. Para celebrar a data, temos de agradecer, não apenas aos proprietários, na pessoa de José Grisolia Filho, mas desejar longa vida a essa empresa para que continue esse trabalho de registro dos fatos e histórias desta terra missioneira”.