Já perdi as contas de quantas vezes escrevi sobre violência contra a mulher aqui na coluna. Agressões, socos, tiros, facadas. Em uma das últimas vezes que estive com a programação da Rádio Gaúcha nas ruas, antes da pandemia, me deparei com três mulheres que retornavam do DML, em Porto Alegre, onde haviam feito reconhecimento do corpo da irmã, assassinada pelo marido com três tiros, em Torres. As mulheres se aproximaram do estúdio móvel da rádio, perguntaram se eu poderia ajudá-las a fazer Justiça e caíram no choro ao lembrar da criança, filha do casal, que assistiu à cena. Eu também chorei.
No final da tarde de ontem, mais um caso. Contou a reportagem de GaúchaZH que um mulher foi morta a facadas por um homem em um posto de combustíveis em Guaíba, na Região Metropolitana. Ela tinha 25 anos e trabalhava como motorista de aplicativo. Ao deixar um passageiro no posto, um homem chegou de moto e entrou no carro. O principal suspeito é o ex-companheiro da vítima.
Neste caso, aliás, nem a Justiça foi capaz de proteger a mulher, já que segundo as informações da polícia havia um pedido deferido de medidas protetivas feito por Jennifer recentemente. O caso será tratado como feminicídio.
Em maio, a vítima foi Luiza Vitória Bica Gonçalves, de 22 anos. Ela preparava um bolo de laranja quando a campainha tocou no começo da noite do dia 6. Relatou a repórter Jeniffer Goularte, que Luiza desligou o forno e foi atender. No portão da casa no Alto Petrópolis, em Porto Alegre, estava o ex-namorado Fabio Freitas de Medeiros, 35 anos, que tinha ido buscar seus últimos pertences. Luiza foi alcançando as sacolas e ao entregar a última foi surpreendida com golpes de faca.
— Ela lutou, tentou se defender mas se machucou toda. Eu estava deitada e ouvi os gritos. Olhei pela janela e só vi ele correndo. Quando cheguei no muro, ela já estava deitada no asfalto, morta — recordou a mãe da jovem.
Os casos descritos acima evidenciam uma perversa realidade que trata o corpo da mulher como objeto de posse do homem. É o machismo que matou ontem, mata hoje e continuará matando amanhã. Enquanto não punirmos agressores nada se resolverá. Mas urge concomitante a necessidade de reforçar em nossa a sociedade a perspectiva da independência feminina, cabendo aos homens uma reflexão urgente. Não, queridos. Nós não somos propriedades de vocês. A nossa vida pertence a nós. Parem de nos matar. Por favor.