Ela é professora, mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente Diretora de Promoção de Direitos LGBT do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Nascida em Montenegro, no Rio Grande do Sul, Marina Reidel formou-se professora e viveu, junto aos alunos da Escola Estadual Rio de Janeiro, em Porto Alegre, o processo de naturalizar e oficializar o gênero com o qual sempre se identificou. Diz que sente saudade da terra natal, mas "volta e meia" vem ao Estado, onde mantém residência, visitar amigos e familiares e matar a saudade do "friozinho" gaúcho.
- Quando criei coragem e assumi publicamente minha identidade de gênero, aos 30 anos, meu passado ficou na memória e nas fotografias. Rompi o casulo, arregacei as mangas e fui à luta com um belo sorriso e um batom nos lábios marcando minha história. Tinha certeza de que iria dar certo - narrou em 2017, em artigo publicado em GaúchaZH.
O processo, naturalizado em meio ao ano letivo, inspirou também seu trabalho na sala de aula. E ela acabou sendo destacada pela ONG internacional Global Alliance for LGBT Education — Aliança Global pela Educação LGBT. Marina recebeu, em 2010, o prêmio Educando para a Diversidade Sexual, por conta do projeto "Diga Não à Homofobia Escolar". A iniciativa estimulava discussões sobre a tolerância sexual enfocando experiências práticas e relacionando o tema à religião, à cidadania e aos direitos humanos.
A sala de aula acabou ficando pequena para Marina, que percorreu , o Brasil falando em eventos sobre diversidade. Primeiro, atuou na Secretaria de Educação e, depois, foi para o município de Canoas, cedida para trabalhar com a pauta da diversidade sexual. Retornou à gestão pública estadual para atuar como Coordenadora da Política LGBT na Secretaria de Direitos Humanos. Em 2016, foi convidada a assumir a Diretoria de Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília. A indicação veio dos movimentos sociais, ela conta. Ao final de 2018, quando da eleição de Jair Bolsonaro, foi convidada a permanecer no cargo - hoje a pasta é chamada Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, sob o comando da ministra Damares Alves.
À coluna, Marina narrou parte da sua experiência enquanto mulher trans e lembrou que o preconceito vem pelo "estranhamento" que parte das pessoas sente ao se deparar com algo que foge ao "padrão" estabelecido pela sociedade. Mas fez questão de reafirmar que competência nada tem a ver com a identidade que ela ou qualquer pessoa possa vivenciar.
- Ainda encontramos o olhar do estranhamento para algumas pessoas, para aquelas pessoas que não estão dentro do "padrão" que a sociedade exige. Eu, pessoalmente, nunca vivi essa dificuldade aqui no Ministério porque já há uma compreensão enquanto Secretaria, enquanto Ministério dos Direitos Humanos. Mas, claro que as instituições são formadas por pessoas. Então, dentro desse contexto, a gente pode encontrar, sim, preconceito das pessoas. Na época de professora, eu encontrei várias dificuldades, olhares de estranhamento e aquela velha frase "Será que ela tem condições de exercer esse cargo?" - explicou.
Quanto ao Dia do Orgulho LGBT, celebrado no próximo domingo (28), Marina definiu:
- Eu resumo o Orgulho LGBT ao orgulho de ser. Porque eu sou. Eu estou. Eu pertenço a esse lugar. Então eu vou lutar todos os dias para que eu, para que as minhas iguais e os meus iguais, dentro das nossas diferenças, possam ter uma vida um pouco melhor. A gente vive o preconceito todos os dias. A gente sai de casa e não sabe o que vai encontrar na rua. Muitas vezes, o preconceito está dentro da própria casa simplesmente por você ser quem você é, por você amar do jeito que você ama. Então, nós podemos dizer que o fato de ser ou o fato de amar já nos torna orgulhosos - concluiu.