É de corar o mais malandro quero-quero do estádio Beira-Rio os detalhes da sentença aplicada pela Justiça do Rio Grande do Sul em mais uma condenação de ex-dirigentes do Sport Club Internacional envolvidos em desvios dos recursos do clube nos anos de 2015 e 2016. Enquanto o torcedor se escabelava com a iminente queda para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, mostra o documento, o homem destacado para cuidar das finanças do clube se aproveitava do dinheiro do associado para se esbaldar ora em um cruzeiro com destino ao Caribe, ora em festejos no Réveillon do Rio de Janeiro.
A investigação expôs que a estadia do então dirigente e de familiares no hotel custou R$ 28,4 mil ao Inter e a ceia de Réveillon, R$ 32 mil
No caso da aventura carioca, a hospedagem se deu no famoso hotel Copacabana Palace, cuja diária não parte de menos de R$ 3 mil. A investigação, conduzida de forma impecável pelo promotor Flávio Duarte — um craque em rastrear esquemas de lavagem de dinheiro — expôs que a estadia dele e de familiares no hotel custou R$ 28,4 mil ao Inter e a ceia de Réveillon, R$ 32 mil. Tudo disfarçado de “gasto” do clube, com notas frias impressas por uma agência de viagens e pago, repito, com dinheiro dos sócios que assistiriam ao inédito rebaixamento da agremiação nos meses seguintes.
Escrevo sobre o tema com a parcialidade de torcedora, identificada e apaixonada por futebol. O que leva alguém a crer que, empossado dirigente, tenha direito de surrupiar os cofres que não lhe pertencem e se esbaldar em luxuosos hotéis pagos com o dinheiro dos outros?
É a cultura da impunidade, dirão. E, de fato, a certeza de que práticas corruptas — incluindo aqui o desvio de recursos privados — não resultarão em punições efetivas perpetua em nosso país uma cultura do “fica tranquilo, não vai dar em nada”. Roubam por anos, compram carros e mansões luxuosas, enriquecem às nossas custas, e a coisa fica por isso mesmo. A política brasileira está cheia de exemplos nesta direção.
Daí a importância de instituições atentas no sentido de investigar e punir tais desvios. A decisão da Justiça, neste caso, “significa a legitimidade das investigações do Ministério Público” e “representa a gravidade dos fatos, refletida na altíssima pena aplicada aos réus”, como observou o promotor Flávio Duarte à Rádio Gaúcha. Importantíssimo. A fim de que fortaleçamos uma cultura em que a prática de desvios seja vista como algo inaceitável e jamais esperada de alguém que alcança uma posição de poder.