Enquanto índices de roubos e assaltos registram queda substancial no mundo todo, neste período de isolamento por conta do coronavírus, uma estatística continua a nos assombrar: os casos de mulheres agredidas e mortas sobem de forma triste e constante. Reportagem publicada nesta quarta-feira (15) pelo jornal Folha de São Paulo revela que o número de mulheres assassinadas dentro de casa quase dobrou naquele Estado no período de quarentena, em comparação com os mesmos dias no ano passado. O vírus foi capaz de esvaziar a Praça São Pedro, no Vaticano, e até mesmo adiar a realização dos Jogos Olímpicos, mas ainda não teve força para vencer a violência doméstica.
E não se trata aqui de ignorar as milhares de mortes provocadas pela covid-19, ainda que alguns insistam em desmerecer sua gravidade, mas sim de chamar a atenção para uma doença tão poderosa quanto repugnante e que faz com que homens sintam-se donos de suas companheiras e ex-companheiras: o machismo. É grave a ponto de a Organização Mundial das Nações Unidas emitir um alerta pedindo aos países que aumentem o investimento em serviços online e em organizações da sociedade civil a fim de atender às mulheres vítimas. A ONU também pediu que as nações estabeleçam sistemas de alerta de emergência em farmácias e mercados, para que elas possam ter a quem recorrer. O governo argentino comprou a ideia. E criou uma senha para que vítimas de violência doméstica peçam ajuda em farmácias do país. Não é uma gripezinha. Não é mimimi.
Aqui no Estado, a chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor, permanece atenta a essas questões. Como primeira mulher à frente da instituição, ela anunciou desde o primeiro dia de sua gestão esforços contínuos para dar assistência às mulheres vítimas de violência e para punir agressores pelo Estado. A patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar, também foi reforçada. Prova de que a união das forças de segurança veio para ficar no Rio Grande do Sul.
Na Assembleia Legislativa, a deputada Luciana Genro (PSOL) também se movimentou. À coluna, adiantou que enviará um ofício a respeito da violência contra as mulheres na quarentena e sugerindo que o Executivo use a emenda apresentada por ela, no valor de R$ 250 mil, para casos em que seja preciso abrigar mulheres vítimas, que precisem deixar suas casas. A ideia é que o valor possa ser utilizado em pagamento de hotéis e pousadas para as vítimas, caso haja demanda para além dos abrigos já existentes.
- O isolamento social é muito importante, mas para algumas mulheres pode se transformar em um risco de vida. Assim como o Estado está atuando para proteger a todos do coronavírus precisa atuar para proteger estas mulheres da violência doméstica - explicou.
O apelo sobre a importância de atentarmos ao tema chegou ao Papa. Na tradicional oração do Angelus, Francisco lembrou aos fiéis que, em consequência das medidas de confinamento impostas contra a pandemia de coronavírus, a violência doméstica tende a aumentar. Oremos. Que Deus tenha piedade de todas nós.