Ao deixar o governo Bolsonaro, com acusações gravíssimas contra o presidente da República, o ex-ministro e ex-juiz federal Sergio Moro escancarou verdades incômodas e que não podem cair no esquecimento. Acusou o presidente da República de tentar interferir na Polícia Federal, sinalizou intenção de blindagem de amigos e familiares do chefe do Executivo e ainda indicou como prova o conteúdo de uma reunião em que, entre outras barbaridades, o ministro do Meio Ambiente sugere passar "a boiada" para aprovar leis que flexibilizem a proteção ambiental já que a mídia está preocupada com as (hoje) mais de 30 mil mortes por coronavírus.
É pouco?
O ex-ministro, ao falar ao programa Fantástico, da TV Globo, também expôs uma realidade que muitos ainda preferem fingir não ver. Disse Moro que uma sequência de fatos o fizeram perceber que a agenda anti-corrupção passa longe de ser prioridade para Bolsonaro. Citou o desapreço pelo pacote anti-crime no Congresso, o deslocamento do Coaf para o Ministério da Economia e as nomeações políticas duvidosas, num indicativo claro de que falava sobre a oferta de cargos ao centrão. Há dois dias, aliás, o presidente passou o comando do Banco do Nordeste (BNB) para as mãos de um indicado pelo PL, do mensaleiro Valdemar da Costa Neto.
Nesta quarta-feira (3), Moro foi além. Em artigo publicado pelo jornal O Globo, o ex-ministro abre o verbo contra o "populismo escancarado" e com "lampejos autoritários" promovido pelo atual governo. E, de novo, usou de elementos concretos para dar substância ao seu posicionamento:
"Radares devem ser retirados das rodovias federais, ainda que isso leve ao incremento dos acidentes e das mortes; agentes de fiscalização ambiental devem ser exonerados se atuarem efetivamente contra o desmatamento ou queimadas; médicos devem ser afastados do Ministério da Saúde pois a pandemia do coronavírus atrapalha a economia, e agentes policiais federais não podem cumprir “ordens absurdas” quando dirigidas contra aliados político-partidários", exemplificou.
Ele ainda mandou indiretas - bem diretas, sublinhe-se - ao ex-chefe:
"Dentro do modelo do Estado de direito o governo é de leis, não do arbítrio do governante ou de interesses especiais. Dessa forma, é essencial separar o Estado da pessoa do governante", pontuou.
O ex-ministro ainda alertou para as consequências negativas de um governo amparado pelo "populismo". E afirmou que a saída não está no ódio, muito menos na divisão da população brasileira.
"O quadro é muito ruim. Mas quero deixar claro: o populismo é negativo por si mesmo, seja de direita, seja de esquerda. Manipular a opinião pública, estimulando ódio e divisão entre a população é péssimo. Temos mais coisas em comum do que divergências. Democracia é tolerância e entendimento", concluiu.
Sergio Moro tem razão.